o processo da Mente
Osho (Mestre Siriano)
A coisa mais difícil, quase impossível, para a
mente, é permanecer no meio, é permanecer equilibrada. E o mais fácil é
movimentar-se de um pensamento para o seu oposto. Movimentar-se de uma
polaridade para a polaridade oposta é a natureza da mente. Isso tem que ser
entendido muito profundamente, porque sem que você entenda isso, nada poderá
levar você à meditação.
A natureza da mente é movimentar-se de um extremo a outro, ela depende do desequilíbrio. Se você estiver equilibrado, a mente desaparece. A mente é como uma doença: quando você está desequilibrado ela está ali, quando você está equilibrado ela não está ali.
É por isso que é fácil para uma pessoa que come
muito fazer jejum. Isso parece sem lógica, porque nós pensamos que uma pessoa
que é obcecada por comida não consegue jejuar. Mas você está errado. Somente
uma pessoa que é obcecada por comida pode jejuar, porque jejuar é a mesma
obsessão no sentido oposto. Na verdade, não houve mudança em você. Você continua
obcecado por comida. Antes você comia muito e agora você está faminto – mas o
foco da mente continua na comida, a partir de um extremo oposto.
Um homem que tenha se entregue em demasia ao sexo, pode ser tornar um celibatário muito facilmente. Não há nenhum problema. Mas é difícil para a mente fazer uma dieta certa, é difícil para a mente estar no meio.
Porque é difícil estar no meio? Isso é exatamente
igual ao pêndulo de um relógio. O pêndulo vai para a direita, e daí se move
para a esquerda, então de novo para a direita, e depois de novo para a
esquerda. O relógio inteiro depende desse movimento. Se o pêndulo parar no
meio, o relógio para. E quando o pêndulo se move para a direita, você pensa que
ele está somente indo para a direita. Mas, ao mesmo tempo que ele está indo
para a direita, ele está juntando momento* para ir para a esquerda. Quanto mais
ele se move para a direita, mais energia ele reúne para se mover para a
esquerda, para o oposto. Quando ele está se movendo para a esquerda ele está de
novo reunindo momento para se mover para a direita.
Sempre que você come demais, você está reunindo momento para fazer jejum. Sempre que você se entrega em demasia ao sexo, mais cedo ou mais tarde, o celibato, o brahmacharya se tornará atraente para você.
E o mesmo está acontecendo a partir do polo oposto.
Vá e pergunte aos chamados sadhus, aos bhikkhus, aos sannyasins. Eles firmaram
um propósito de permanecer celibatários; e agora a mente deles está reunindo
momento para se movimentar em direção ao sexo. Eles firmaram um propósito de
ficarem com fome, de passar fome e a mente deles está constantemente pensando
em comida. Quando você está pensando muito a respeito de comida, isso mostra
que você está reunindo momento para comer. Pensar significa momento. A mente
começa fazer arranjos para ir ao oposto.
A primeira coisa: sempre que você se move, você também está se movendo para o oposto. O oposto está escondido, ele não é aparente.
Quando você ama uma pessoa, você está reunindo
momento para odiá-la. É por isso que somente amigos podem se tornar inimigos.
Você não pode se tornar um inimigo sem que primeiro você tenha se tornado um
amigo. Amantes discutem e brigam. Só os amantes podem discutir e brigar, porque
a não ser que você ame, como você poderá odiar? A não ser que você tenha se
movido para a extrema esquerda, como você poderá se mover para a direita?
Pesquisas modernas dizem que isso que se chama amor é um relacionamento de
íntima inimizade. Sua esposa é a sua inimiga íntima e seu marido é o seu inimigo
íntimo – ambos inimigos e íntimos. Parecem opostos, sem lógica, porque nós
ficamos ponderando como alguém que é íntimo pode ser inimigo? Alguém que é
amigo, como pode também ser o adversário?
A lógica é superficial. A vida vai mais fundo. Na
vida, todos os opostos se juntam, eles existem juntos. Lembre-se disso, porque
então meditação se torna equilíbrio. Buda ensinou oito disciplinas e para cada
disciplina ele usava a palavra certa. Ele dizia: o esforço certo, porque é
muito fácil mover-se da ação para a inação, do despertar para o dormir, mas
permanecer no meio é difícil. Quando Buda usa a palavra certa, ele estava
dizendo: não se mova para o oposto, simplesmente permaneça no meio. A comida
certa – ele nunca disse jejum. Não se entregue em demasia à comida e não se
entregue ao jejum. Ele dizia: comida certa. Comida certa significa permanecer
no meio.
Quando você permanece no meio você não está reunindo momento algum. E essa é a beleza disso: um homem que não está reunindo momento algum para se mover a qualquer lugar, pode estar à vontade consigo mesmo, pode se sentir em casa.
Você nunca pode se sentir em casa, porque qualquer
coisa que você faz, imediatamente você terá que fazer o oposto para equilibrar.
E o oposto nunca equilibra, ele simplesmente dá a você a impressão de que você
está se tornando equilibrado, mas você terá que se mover para o oposto de novo.
Um buda não é amigo nem inimigo de alguém. Ele simplesmente parou no meio – o relógio não está funcionando… Quando a sua mente para, o tempo para; quando o pêndulo para, o relógio para…
O tempo é criado pelo movimento da mente,
exatamente como o movimento do pêndulo. A mente se move, você sente o tempo.
Quando a mente não está se movimentando, como você pode sentir o tempo? Quando
não há qualquer movimento, o tempo não pode ser sentido. Cientistas e místicos
concordam nesse ponto: que o movimento cria o fenômeno do tempo. Se você não
está se movendo, se você está parado, o tempo desaparece, a eternidade chega à
existência.
O seu relógio está se movendo rapidamente e o seu
mecanismo é movimento de um extremo ao outro.
A segunda coisa a ser entendida a respeito da mente é que a mente sempre quer o que está distante, nunca o que está perto. O que está perto é enfadonho, você fica farto dele. O distante lhe dá sonhos, esperanças, possibilidades de prazer. Assim, a mente sempre está pensando no distante. É sempre a mulher de alguma outra pessoa que é atraente e bonita; é sempre a casa de alguma outra pessoa que o obceca; é sempre o carro de alguma outra pessoa que fascina você. É sempre o que está distante. Você fica cego para o que está perto. A mente não consegue ver aquilo que está muito perto. Ela somente pode ver aquilo que está muito longe.
E o que está muito longe, o que está mais distante?
O que está mais distante é o oposto. Você ama uma pessoa – agora o fenômeno
mais distante é o ódio. Você está comendo demais – agora o fenômeno mais
distante é o jejum. Você está celibatário – agora o fenômeno mais distante é o
sexo. Você é um rei – agora o fenômeno mais distante é ser um monge.
O que está mais distante é aquilo com que sonhamos mais. Ele atrai, ele obceca, ele segue chamando, convidando você e então, quando você tiver alcançado o outro polo, este local de onde você partiu em caminhada se tornará belo novamente. Divorcie-se de sua esposa e após uns poucos anos ela terá ganho beleza novamente…
Para a mente, o oposto é magnético e a não ser que,
através da compreensão, você transcenda isso, a mente continuará se movendo da
esquerda para a direita, da direita para a esquerda, e o relógio continua. Ele
tem continuado por muitas vidas e é assim que você tem sido enganado – porque
você não compreende o mecanismo. De novo o distante se torna atraente e de novo
você começa uma nova caminhada. E no momento em que você alcança o seu
objetivo, aquilo que antes era seu conhecido e que agora está distante, de novo
se torna atraente, agora se torna uma estrela, alguma coisa valiosa.
Eu estive lendo a respeito de um piloto que estava
voando sobre a Califórnia com um amigo. Ele lhe disse: “Veja lá embaixo aquele
belo lago. Eu nasci perto dele, ali está a minha vila”. Ele apontou para uma
pequena vila numa colina próxima ao lago. E ele disse: “Eu nasci ali e quando
eu era criança eu costumava sentar próximo ao lago para pescar. Pescar era o
meu hobby. Mas naquela época, quando eu era criança e pescava no lago, os
aviões sempre costumavam cortar o céu, passando sobre a minha cabeça, e eu
sonhava com o dia em que eu próprio me tornaria um piloto e estaria pilotando
um avião. Aquele era meu único sonho. Agora ele está realizado e que miséria!
Agora eu continuamente olho para aquele lago lá em baixo e fico pensando no dia
em que eu estiver aposentado para poder ir pescar nele de novo. Aquele lago é
tão lindo…”
É assim que as coisas acontecem. É assim que as
coisas têm acontecido com você. Na infância você queria crescer depressa porque
as pessoas mais velhas eram mais poderosas. Uma criança quer crescer imediatamente.
As pessoas mais velhas são sábias e a criança sente que qualquer coisa que ela
faça está sempre errado. Pergunte então a uma pessoa mais velha. Ela sempre
acha que quando a infância se foi, tudo foi perdido, o paraíso estava ali, na
infância. E todos os velhos morrem pensando na infância, na inocência, na
beleza, no mundo de sonhos.
Qualquer coisa que você tenha, parece sem
utilidade; qualquer coisa que você não tenha parece de grande utilidade.
Lembre-se disso porque senão a meditação não poderá acontecer, porque meditação
significa essa compreensão da mente, do trabalho da mente, do verdadeiro
processo da mente.
A mente é dialética, ela faz com que você se mova repetidas vezes em direção aos opostos. E isso é um processo infinito, ele nunca se acaba, a não ser que você, de repente, o abandone, a não ser que, de repente, você se torne consciente do jogo, a não ser que, de repente, você se torne alerta a respeito da trapaça da mente, e você pare no meio.
Parar no meio é meditação.
A terceira coisa: porque a mente consiste em
polaridades, você nunca é um todo. A mente não pode ser um todo, ela sempre é
metade. Quando você ama alguém, você já observou que você está suprimindo o seu
ódio? O amor não é total, ele não é um todo, exatamente atrás dele todas as
forças escuras estão escondidas e elas podem entrar em erupção a qualquer
momento. Você está sentado em cima de um vulcão.
Quando você ama alguém, você simplesmente se esquece de que você tem raiva, de que você tem ódio, de que você é ciumento. Você simplesmente deixa tudo isso de lado, como se isso nunca tivesse existido. Mas como você pode deixar tudo isso de lado? Você pode simplesmente esconder no inconsciente. Assim, na superfície você pode se tornar amoroso, mas lá no fundo o tumulto está escondido. Mais cedo ou mais tarde você vai ficar de saco cheio, o amado terá se tornado familiar.
Dizem que a familiaridade cria desprezo, mas não é que a familiaridade cria desprezo – a familiaridade faz você ficar de saco cheio. O desprezo esteve sempre ali, escondido. Ele vem à tona, ele só estava esperando o momento certo, a semente estava ali.
A mente sempre tem o oposto dentro dela e esse
oposto vai para o inconsciente e fica ali esperando pelo seu momento para vir à
tona. Se você observar minuciosamente, você sentirá isso a todo momento. Quando
você diz para alguém “eu te amo” feche os seus olhos, seja meditativo, e sinta
– existe algum ódio escondido? Você irá senti-lo. Mas você não quer encarar
isso porque a verdade é muito feia – a verdade que você sente ódio pela pessoa
que você ama – por isso você engana a si mesmo. Você quer escapar da realidade,
assim você esconde. Mas, esconder não vai ajudar, porque assim você não está
enganando à outra pessoa, você está enganando a si mesmo.
Assim, sempre que você sentir alguma coisa, feche os olhos e vá para dentro de si mesmo para encontrar o oposto em algum lugar. Ele está ali. E se você puder ver o oposto, isso dará a você um equilíbrio. Então você não irá dizer “eu amo você”. Se você for uma pessoa verdadeira você irá dizer: “meu relacionamento com você é de amor e ódio”.
Todos os relacionamentos são relacionamentos de
amor/ódio. Nenhum relacionamento é puro amor e nenhum relacionamento é puro
ódio. Ele é ambos: amor e ódio. Se você for verdadeiro você estará em
dificuldades. Se você disser para uma garota: “meu relacionamento com você é
ambos: amor e ódio. Eu amo você como nunca amei alguém e eu odeio você como
nunca eu odiei alguém”, será difícil para você se casar, a não ser que você
encontre uma garota meditativa, que possa compreender a realidade, a não ser
que você possa encontrar uma amiga que possa compreender a complexidade da
mente.
A mente não é um mecanismo simples. Ela é muito
complexa e através da mente você nunca pode se tornar simples, porque a mente
segue criando enganos. Ser meditativo significa estar alerta para o fato de que
a mente está escondendo alguma coisa de você, de que você está fechando os
olhos para alguns fatos que estão perturbando. Mais cedo ou mais tarde aqueles
fatos perturbadores virão à tona, vão se apoderar de você, e você irá em
direção ao oposto. E o oposto não está lá longe, num lugar distante, em alguma
estrela. O oposto está escondido atrás de você, dentro de você, em sua mente,
no próprio funcionamento da mente. Se você puder compreender isso, você irá
parar no meio.
Se você puder ver o eu amo e o eu odeio, de repente, ambos irão desaparecer, porque ambos não podem existir juntos na consciência. Você tem que criar uma barreira: um terá que existir no inconsciente e o outro no consciente. Ambos não podem existir na consciência, eles irão negar um ao outro. O amor destruirá o ódio, o ódio destruirá o amor, eles terão que equilibrar um ao outro e eles simplesmente irão desaparecer. A mesma quantidade de ódio e a mesma quantidade de amor irão negar um ao outro. De repente eles irão evaporar – você estará ali, mas nenhum amor e nenhum ódio. Então você estará equilibrado.
Quando você está equilibrado, a mente não está lá –
então você é um todo. Quando você é um todo, você é sagrado, mas a mente não
está lá. Assim, meditação é um estado de não-mente. Através da mente esse
estado não é alcançado. Através da mente, qualquer coisa que você fizer, ele
nunca será alcançado. Então, o que você está fazendo quando você está meditando?
Pelo fato de você ter criado tanta tensão em sua vida, você agora está meditando. Mas isso é o oposto da tensão, não a verdadeira meditação. Você está tão tenso que a meditação se tornou atraente. É por isso que no Ocidente a meditação atrai mais do que no Oriente. É porque no Ocidente existe mais tensão do que no Oriente. O Oriente ainda está relaxado, as pessoas não estão tão tensas, elas não estão se enlouquecendo tão facilmente, elas não cometem suicídio tão facilmente. Elas não são tão violentas, tão agressivas, tão apavoradas, tão amedrontadas – não, elas não estão tão tensas. Elas não estão vivendo essa correria louca onde nada além de tensão é acumulado.
Assim, se o Mahesh Yogi vier à Índia, ninguém o
escutará. Mas na América, as pessoas ficam loucas com ele. Quando existe muita
tensão, a meditação atrai. Mas essa atração é de novo a mesma armadilha. Isso
não é verdadeira meditação, isso é de novo um engano. Você medita por uns
poucos dias, você se torna relaxado e, quando você se torna relaxado, de novo
surge a necessidade de atividades. Você fica de saco cheio e a mente começa a
pensar em fazer alguma coisa, em se movimentar.
As pessoas chegam a mim e dizem: “nós meditamos por alguns anos, mas agora isso ficou chato, perdeu a graça”. Há poucos dias uma garota veio a mim e disse: “agora a meditação não tem mais graça alguma, o que eu devo fazer?”
Agora a mente está procurando por alguma outra
coisa, agora ela já teve bastante meditação. Agora que ela já está relaxada, a
mente está pedindo por mais tensões – alguma coisa que possa perturbá-la.
Quando ela diz que agora a meditação não tem mais graça, ela quer dizer que
agora não há mais tensão, assim como pode a meditação ter graça? Ela terá que
ir atrás de tensões novamente, aí a meditação de novo se tornará algo valioso.
Veja o absurdo da mente: você tem que ir embora para chegar perto, você tem que se tornar tenso para ser meditativo. Mas isso não é meditação, de novo isso é uma trapaça da mesma mente. Numa nova dimensão, o mesmo jogo continua.
Quando eu digo meditação, eu quero dizer: ir além das polaridades opostas, deixar de lado todo o jogo, olhar para o absurdo disso e transcendê-lo. A própria compreensão se torna transcendência.
A mente forçará você a se mover para o oposto – não
se mova para o oposto. Pare no meio e veja que isso tem sido sempre uma trapaça
da mente. É assim que a mente tem dominado você – através do oposto. Você já
percebeu isso?
Depois de fazer amor com uma mulher, você de repente começa a pensar em abstinência sexual, brahmacharya e isso exerce uma fascinação tão persuasiva que naquele momento você sente como se nada mais existisse para ser alcançado. Você se sente frustrado, enganado, você sente que não havia nada naquele sexo e que somente bramacharya contém a felicidade. Mas depois de vinte e quatro horas, o sexo de novo se torna importante, e de novo você se move para ele.
O que a mente está fazendo? Depois do ato sexual
ela começa a pensar no oposto, o qual, de novo, cria a vontade do sexo.
Um homem violento começa a pensar na não-violência, então ele poderá facilmente se tornar violento de novo. Um homem que fica raivoso repetidamente, sempre pensa em não ter raiva, sempre decide não ficar raivoso novamente. Essa decisão ajuda-o a ficar com raiva de novo.
Se você realmente não quiser ficar raivoso de novo, não tome decisão contra a raiva. Simplesmente olhe para a raiva e olhe para essa sombra da raiva que você pensa que é não ter raiva. Olhe para o sexo e para essa sombra do sexo que você pensa que é brahmacharya, abstinência sexual. Isso é só negatividade, ausência. Olhe para o excesso do comer e para a sua sombra que é o jejum. Jejuns sempre seguem o comer demais, a indulgência demasiada é sempre seguida por votos de celibato; a tensão é sempre seguida por algumas técnicas de meditação. Olhe para essas coisas juntas, sinta como elas estão relacionadas, como elas são parte de um só processo.
Se você puder compreender isso, a meditação
acontecerá em você. Na verdade, ela não é algo a ser feito, ela é uma questão
de compreensão. Ela não é um esforço, ela não é algo a ser cultivado. Ela é
algo a ser profundamente compreendido.
Compreensão dá liberdade. Conhecer todo o mecanismo da mente é transformação. Então, de repente, o relógio para, o tempo desaparece. E parando o relógio, não existe mente. Parando o tempo, onde você está? O barco está vazio.
O homem do Tao age sem impedimentos…. Você age sempre com impedimentos, o oposto está sempre ali criando o impedimento, você não é um fluxo.
Se você ama, o ódio está sempre ali como um
impedimento. Se você se movimenta, alguma coisa está puxando você para trás,
você nunca se move totalmente, alguma coisa sempre fica para trás, o movimento
não é total. Você se move com uma perna, mas a outra perna não se move. Como
você pode se mover? O impedimento está ali.
A sua angústia, a sua ansiedade é esse impedimento,
é essa contínua movimentação de uma metade e não movimentação da outra metade.
Por que você está tão angustiado? O que cria tanta angústia em você? Qualquer
coisa que você faz, porque você não fica feliz fazendo aquilo? A felicidade
somente pode acontecer para o todo, nunca para a parte.
Quando o todo se movimenta sem qualquer impedimento, o próprio movimento é felicidade. Felicidade não é alguma coisa que vem de fora – ela é uma sensação que vem quando o seu Ser como um todo se movimenta, o próprio movimento do todo é felicidade. Não é alguma coisa acontecendo para você, ela surge a partir de você, ela é uma harmonia no seu Ser.
Se você está dividido – e você
está sempre dividido: metade se movendo, metade segurando; metade dizendo sim,
metade dizendo não; metade amando, metade odiando. Você é um reino dividido,
existe um conflito constante dentro de você. Você diz alguma coisa, mas aquilo
nunca é o que você quer dizer, porque o oposto está ali impedindo, criando uma
barreira…
A mente entra quando você está dividido. A mente se alimenta com a divisão. É por isso que Krishnamurti segue dizendo que quando o observador se torna o observado, você está em meditação…
Sempre que a mente entra, ela entra como uma força
controladora, um administrador. Ela não é o mestre, ela é o administrador. E
você não chega até o mestre se o administrador não for colocado de lado. O
administrador não permite que você alcance o mestre, o administrador sempre se
mantém de pé diante da porta, controlando. E todos os administradores
administram mal – a mente tem feito um grande trabalho de má administração…
Lao Tzu
disse: quando não havia nem um simples filósofo, tudo se resolvia, não haviam
perguntas e todas as respostas estavam disponíveis. Quando os filósofos
surgiram, as perguntas vieram e as respostas desapareceram. Sempre que há uma
pergunta, a resposta está muito longe. Sempre que você pergunta, você nunca
obtém a resposta, mas quando você para de perguntar, você descobrirá que a
resposta sempre esteve ali…
O que é felicidade? Felicidade é a sensação que surge em você quando o observador se torna o observado. Felicidade é a sensação que surge em você quando você está em harmonia, não fragmentado, uma unidade, não desintegrado, não dividido. Essa sensação não é algo que vem de fora. Ela é a melodia que cresce em você a partir da sua harmonia interior…
O sol está nascendo… de repente você olha e o
observador não está ali. O sol não está ali e você não está ali. Não há nenhum
observador e nenhum observado. Simplesmente o sol está nascendo e a sua mente
não está ali para controlar. Você não vê e diz: “o sol está lindo”. No momento
que você disser, a felicidade foi perdida. Então já não existe nenhuma
felicidade, ela já se tornou passado, ela já se foi.
De repente, você vê o sol nascendo e aquele que vê
não está ali, aquele que vê ainda não entrou, ainda não se tornou um
pensamento. Você ainda não olhou, não analisou, ainda não observou. O sol está
nascendo e ali não existe ninguém, o barco está vazio, existe felicidade, um
vislumbre. Mas a mente imediatamente entra e diz “o sol está lindo, esse nascer
do sol está lindo”. A comparação entrou e a beleza foi perdida.
Aqueles que sabem, dizem que sempre que você diz: “eu te amo” para uma pessoa, o amor foi perdido. O amor se foi porque o amante entrou. Como pode existir amor quando a divisão, o controlador entra? É a mente que diz: “eu te amo”, porque, na verdade, no amor não existe nenhum eu e nenhum tu. No amor não existem indivíduos. O amor é uma fusão, uma dissolução, eles não são dois.
O amor existe, não os amantes. No amor, o amor
existe, não os amantes, mas a mente entra e diz: “eu estou amando, eu te amo”.
Quando o “eu” entra, a dúvida entra, a divisão entra e o amor não está mais
ali. Muitas vezes, em meditação, você tem alguns vislumbres. Lembre-se: sempre
que você sentir tais vislumbres, não diga: “quão belo é”, não diga “quão
amoroso é”, porque é assim que você perde o vislumbre. Sempre que o vislumbre
vier, deixe que ele esteja ali… Quando em meditação você tiver um vislumbre de
algum êxtase, deixe que ele aconteça, deixe-o ir fundo. Não divida a si mesmo.
Não faça qualquer declaração, senão o contato será perdido”.
______________________________
OSHO – The Empty Boat – discurso n.2
Tradução: Sw. Bodhi Champak – Copyright © 2006 OSHO INTERNATIONAL FOUNDATION, Suiça.
Fonte: - https://trabalhadoresdaluz.altervista.org