POSTAGENS FIXAS

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

O que é o homem exatamente?


Osho (Mestre Siriano)

O homem é um mero talvez, uma possibilidade, um potencial, um tornar-se, uma vontade. O homem não é, ainda. O homem ainda tem que ser. Essa é a agonia do homem e o seu êxtase também. A besta é, e nenhum crescimento lhe é possível. É um produto acabado. Na besta não há qualquer possibilidade de procura, de busca, de ser. Nesse caso, não há qualquer liberdade. A besta está em absoluta escravidão. A besta vive e morre sem saber que ela vive e morre. A besta é, mas ela não sabe que ela é.

O homem é e sabe que ele é, mas não sabe quem ele é.

O homem é um processo constante. Alguma coisa está sempre acontecendo, está sempre na beira do acontecimento. O homem é uma excitação, uma aventura, uma peregrinação.

Nenhuma besta pode sequer fugir de seu destino. Ele é sempre predeterminado. A besta tem um destino absoluto. Nada acontecerá de outro jeito. A besta é pré-programada. O homem não tem qualquer programa prévio, ele é simplesmente uma abertura. Mil e uma coisas são possíveis. Por isso surge a ansiedade: ‘Ser isso ou ser aquilo? Ir para a direita ou para a esquerda? Viver desse jeito ou viver daquele jeito? E o que é certo? E o que irá me satisfazer?’

A cada momento o homem tem que decidir. E, obviamente, quando você decide, você treme. Há sempre a possibilidade de você escolher errado. Na verdade, as possibilidades de escolher errado são maiores. Em mil e um caminhos, apenas um será o certo. Por isso uma grande tremedeira e angústia: “Eu vou fazer isso? Sendo eu mesmo, eu serei bem-sucedido? Ou isso vai ser apenas um grande e inútil esforço e ao final terei só frustração e fracasso? Eu serei capaz de conhecer vida abundante? Essa vida se tornará uma base para uma vida ainda maior que virá? Ou isso nada mais é do que uma morte? Existe apenas um túmulo no final, ou alguma coisa mais?’

O homem é um ser aberto. Tudo é possível, mas nada é certo. A besta é absolutamente certa. Ela tem uma definição. O homem não tem definição.

Assim quando você me pergunta: O que é o homem exatamente? você está formulando errado a pergunta. O homem não é algo exatamente. Ele é apenas uma vaga vontade, um sonho muito vago de coisas que podem ser, de coisas que podem ser possíveis, que podem não ser possíveis. O homem é uma hesitação. A cada momento o homem é pego pela hesitação, porque um simples passo errado destruirá toda a sua vida.

O homem pode perder. Nenhuma besta pode sequer perder. Mas porque o homem pode perder, ele pode ganhar também. Ambas as possibilidades vêm juntas. O homem pode crescer, o homem é crescimento. O mero talvez pode se tornar verdade. O potencial pode ser transformado em realidade. A semente pode se tornar um florescimento. Aquilo que era apenas não-manifesto, pode se manifestar e então acontece um grande esplendor, uma grande bênção.

O Buda é, sabe que ele é, e também sabe quem ele é. Esses são os três estágios do crescimento: a besta, o homem e o Buda. A besta tem apenas uma dimensão: ela é, ela existe, completamente inconsciente de que ela existe. Por isso ela não pode pensar em morte. A morte não é um problema para a besta. A morte somente pode se tornar um problema quando você sabe que você é. Com esse conhecimento surge o medo de que um dia você pode deixar de ser. Porque houve um tempo em que você não era e haverá de novo um tempo em que você deixará de ser. A sua existência é momentânea. Você pode desaparecer a qualquer momento. Você desaparecerá algum dia. A morte está por acontecer. É somente o homem que sabe a respeito da morte.

É por isso que o homem cria a religião. Religião é a resposta do homem diante da possibilidade da morte. É o esforço do homem para vencer a morte. Nenhum animal é religioso, não pode ser. Sem a consciência da morte, não há possibilidade de religião. Mas antes que você se torne consciente da morte, você terá que se tornar consciente de que você é. Esse é o pré-requisito básico.

Assim o homem sabe que ele é, e também se torna consciente e apreensivo de que a qualquer momento ele deixará de ser. O tempo é curto. Para a besta o tempo é não-existencial, o tempo não existe. A besta vive num mundo sem tempo, vive a cada momento. Não pensa no passado nem imagina acerca do futuro.

O homem não consegue viver no presente. Ele pensa no passado e em toda a sua nostalgia. Nos dias que foram dourados e que não são mais. E pensa, imagina, fantasia a respeito do futuro, de como os dias deveriam ser.

O homem pensa no passado e no futuro. As bestas vivem apenas no presente. Mas elas não estão conscientes de que isso é o presente. Elas não conseguem ser conscientes do presente. Somente quem é consciente do passado e do futuro, pode ser consciente do presente, porque o presente está espremido entre o passado e o futuro.

Os animais não têm ansiedade. A memória não os perturba e as imaginações não agitam seus corações. Eles são simples. A existência não tem qualquer complexidade para eles. Quando eles vivem, eles vivem. Quando eles morrem, eles morrem. Eles são inocentes. O tempo não chegou para corromper o ser deles.

Mas o homem vive no tempo. Ele é consciente de que ele é, mas ele não é consciente de quem ele é. E isso se torna um grande problema. Quem sou eu? Essa é a pergunta fundamental que homem algum consegue responder. A partir dessa pergunta fundamental surge toda a filosofia, toda a religião, toda a poesia, toda a arte. São diferentes maneiras de se levantar essa pergunta ‘Quem sou eu?’ e diferentes maneiras de respondê-la. Mas a pergunta é só uma: Quem sou eu?

Se você tentar compreender a vida do homem, você verá a persistência dessa simples pergunta. Sim, o homem que é louco por dinheiro também está tentando responder à pergunta ‘Quem sou eu?’. Ele pensa que ao ter dinheiro ele saberá quem ele é, ele saberá que ele é rico. Ele terá uma certa identidade. O homem que está buscando o poder está basicamente tentando responder à pergunta ‘Quem eu sou?’. Ao se tornar o Primeiro Ministro de um país ele saberá que ele é o Primeiro Ministro.

Mas essas respostas são superficiais e não irão satisfazê-lo realmente. Elas podem satisfazer apenas ao medíocre. Elas não podem satisfazer a uma pessoa verdadeiramente inteligente. Mesmo quando você tiver se tornado muito rico, a sua inteligência persistirá em perguntar ‘Quem é você? Sim, você tem dinheiro, mas quem é você? Você não é o dinheiro. Você não pode ser aquilo que você possui. Quem é essa pessoa que possui? Sim, você se tornou o Primeiro Ministro de um país, mas aquilo é só uma função, aquilo não é o seu ser. Quem é você? Quem é essa pessoa que não era Primeiro Ministro e que agora é um Primeiro Ministro, e que amanhã talvez possa não ser mais? Essa função de Primeiro Ministro é só um episódio… na vida de quem?’

A pergunta persiste. Ela não pode ser respondida por esses empenhos e esforços superficiais. Mas basicamente o homem está tentando fazer isso. Ele se torna um marido, se torna uma mãe, um pai, isso e aquilo…, mas o desejo básico é de alguma maneira ter uma identidade: ‘eu sou a esposa, eu sou o marido, eu sou o pai, eu sou a mãe.’ Mas você ainda não teve a pergunta respondida. Ser uma mãe ou um pai, é simplesmente acidental, é a superfície. O seu centro mais interior permanece intocado.

Essa não é a real identidade. Essa é uma identidade falsa. A criança morrerá, então quem é você? Você já não será mais mãe. O marido pode deixá-la, então quem é você? Você já não será mais uma esposa. Essas identidades são muito frágeis e o homem vive constantemente enfrentando crises de identidade. Ele tenta arduamente se ajustar a alguma definição quanto a si mesmo, mas ela acaba escorregando de suas mãos. Somente a pessoa religiosa formula realmente a pergunta, e a formula na direção certa.

O Buda existe da mesma forma que a besta existe. O Buda sabe que ele é, da mesma forma que o homem sabe. Mas uma terceira dimensão se abriu: ele sabe quem ele é, ele chegou a ver o seu ser mais interior. Ele não procurou pela identidade no mundo exterior, porque lá não pode estar qualquer identidade. Como ela pode estar no mundo exterior? Você é a sua interioridade, você é o seu mundo interno, você é a sua subjetividade. Como você pode conhecer isso através de objetos?

Você pode ter uma bela casa, mas isso é o mundo exterior. Você pode ter belas peças de arte, pinturas, antiguidades, mas elas são o mundo exterior. Elas não podem definir você. Você permanece não-definido por elas. Um dia a casa pega fogo e toda a sua identidade foi queimada, e você está parado na rua, de novo confuso: ‘quem sou eu?’

É por isso que as pessoas cometem suicídio. Se elas perderam o dinheiro, se elas faliram, elas cometem suicídio. Porque elas cometem suicídio? Alguém pode pensar ‘porque?’ O dinheiro pode ser ganho novamente… Mas olhe para dentro dessas pessoas. Aquela era a identidade delas. Elas acreditaram por muito tempo que ‘eu sou isso’. Agora, toda a minha conta bancária se esgotou e de novo o problema surge: ‘quem sou eu?’ E elas desperdiçaram toda a vida criando aquela conta bancária. Agora elas não estão preparadas para começar todo aquele esforço de novo. Isso é demais. Elas fracassaram completamente.

Na verdade, ao falirem, o suicídio já havia ocorrido. A identidade delas já havia ido. Elas agora não sabem mais quem elas são. A sua face desapareceu. Como elas podem viver sem uma face? A mulher que você tem amado morre e você comete suicídio, ou começa a pensar em cometer suicídio, porque aquela mulher era a sua identidade. Agora você foi deixado sozinho, vazio. E para reiniciar tudo de novo, começar do nada, parece ser demais. É melhor terminar já com toda essa história.

Esses são os três estágios. E quando eu digo a besta, existem muitos homens que são como as bestas. Eles não estão nem mesmo conscientes de que eles são. Eles vivem mecanicamente. Existem muitas pessoas que são homens, eles sabem que eles são, mas eles não sabem quem eles são. E no meio deles, existem somente uns poucos, aquelas raras pessoas que sabem quem elas são. Elas se tornam tridimensionais.

O homem é uma ponte entre a besta e o Buda. Lembre-se, o homem é uma ponte. Não construa a sua casa sobre a ponte, a ponte não existe para isso. A ponte tem que ser atravessada. Não permaneça um homem, senão você permanecerá na ansiedade e angústia, porque o homem não é um lugar para se ficar e se acomodar. Ele é uma passagem a ser ultrapassada. Ele é uma escada. Você não pode ficar estacionado numa escada. Ela é apenas uma ligação de um ponto a outro ponto.

A besta é e está num certo estado de satisfação. Sem ansiedade, sem medo, sem morte, sem ambição, sem buscas, completamente calma e quieta. Porém inconsciente. O Buda está de novo no estado de satisfação, completamente em paz, à vontade, ele chegou, a jornada terminou. Não há nenhum lugar para ir. Ele já alcançou. Entre esses dois está o homem: meio-besta, meio-Buda. Daí surge a tensão: uma parte se movendo para trás e a outra parte se movendo para a frente.

O homem está rasgado em pedaços.

Deixe-me repetir: o homem ainda não é um ser. O homem perdeu uma maneira de ser, o ser de uma besta. E o homem ainda não alcançou a outra maneira de ser, o ser de um Buda. E o homem está constantemente se movimentando entre esses dois seres, entre essas duas margens.

Você não pode voltar, porque na existência não existe movimento de volta. Você não pode voltar no tempo. O tempo só tem uma dimensão: ele flui em direção à frente. Você só pode ir em direção à frente. Não perca tempo pensando que você também pode ser uma besta e que pode viver como uma besta: comer, beber e se divertir. Isso não é possível para um ser humano. Ele terá que pensar, ele terá que ponderar. Ele não pode se dar ao luxo de não pensar. E é muito arriscado fazer isso porque você ficará estagnado e se tornará uma poça de água suja. O seu frescor e a sua vitalidade são possíveis apenas se você seguir num fluxo e fluir até alcançar o oceano. Àquele oceano eu estou chamando de Buda. Buda, o estado de consciência.

O homem tem que se tornar um Buda, tem que criar aquele desejo intenso, aquela vontade intensa de se tornar um Buda. Esteja numa busca apaixonada por isso. Coloque toda a energia que você tiver. Torne-se flamejante com essa vontade… e você pode se tornar um Buda. E no dia em que você se tornar um Buda, você terá se tornado um ser novamente. Um ser num nível mais alto, no mais elevado nível. Nada existe mais elevado que isso.

Você me pergunta: O que é o homem exatamente?

Enquanto homem, o homem não é algo exato, é apenas um fenômeno vago, uma nuvem, um nevoeiro. O homem não é exato porque ele é uma multidão. O homem é muitos homens, por isso ele é um nevoeiro. A unidade está faltando. Você não tem o centro. O centro surge somente através da consciência. O homem vive simplesmente como uma madeira boiando.

É por isso que eu digo que o homem é um mero talvez, um confuso paradoxo, um ser absurdo. Ele é e não é. Ele está no meio. Ele é o único animal que pode enlouquecer a si mesmo. Nenhum animal pode enlouquecer a si mesmo, somente o homem, porque o homem tem a capacidade de se tornar sábio.

Se você não crescer em sabedoria, você irá se comportar como um louco. Isso é o que a maioria das pessoas no mundo está fazendo. Se você observar a partir de um ponto de vista isento, você ficará surpreso como as pessoas estão vivendo… em tanta confusão, em tanta bagunça, em tanta loucura. Como elas estão se movendo? Elas não estão se movendo em absoluto. Elas estão correndo sem sair do mesmo lugar.

E se observar o homem, você ficará surpreso pois é muito raro cruzar com um homem sábio. Tolos e tolos… Tolos em abundância. Mas lembre-se de que nenhum outro animal pode se comportar como um tolo. Você já viu um cachorro comportando-se como um tolo? Nunca. Eles não podem ser tolos porque eles não podem ser sábios. Ambas as possibilidades surgem simultaneamente.

Observe a si mesmo. Observe a suas tolices. Esteja constantemente alerta em relação ao que você está fazendo com a sua vida. Esta é uma vida preciosa. O valor que ela tem é tanto que não pode ser medido, não pode ser avaliado. Mas porque ela lhe é dada como uma dádiva, você não aprecia o seu valor. Porque ela tem sido uma bênção de Deus, você acha que ela já está certa e garantida. Isso é tolice. Não a considere como certa e garantida. Ela é uma oportunidade para o crescimento.

E você terá que responder a Deus pelo que fez com a sua vida. Você deixou a vida do mesmo jeito que você a recebeu? Ou ainda pior? Pense a respeito disso, de que o homem um dia terá que responder. E a não ser que você seja um Buda, você não será capaz de responder. Porque ser um Buda é ser um Deus, e essa é a sua intrínseca possibilidade. E a não ser que você seja um Deus, você não se sentirá completo.

E somente então você conhecerá exatamente o que você é. Agora, neste momento, você não é nada, apenas um mero talvez.
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OSHO – The Perfect Master – discurso n. 10 – pergunta n. 1 – (Tradução: Sw. Bodhi Champak) - Copyright © 2006 OSHO INTERNATIONAL FOUNDATION, Suíça
Fonte: https://trabalhadoresdaluz.altervista.org