POSTAGENS FIXAS

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Rebelião não é luta,
é pura compreensão


OSHO (Mestre Siriano)

Pergunta: Osho, frequentemente eu ouço você falar sobre rebelião. Os padres e as freiras e os pais que definiram minha educação, agora estão velhos. A maioria já morreu. Parece que não vale a pena rebelar-me contra aquelas pessoas velhas e desamparadas. Agora, eu mesmo sou o padre e as doutrinas. Eu sinto que me rebelar contra qualquer coisa do lado de fora de mim é um desperdício de tempo e esse não é exatamente o ponto. Isso torna a situação muito mais frustrante e embaraçosa. Parece que algo dentro de mim tem que se rebelar contra algo dentro de mim. Eu aceito que não é o meu ser essencial – a face original – que tem que se rebelar. É o self treinado – o subterfúgio. Mas, para me rebelar, eu tenho que usar esse “self”, pois ele é o único que eu conheço. Como pode o subterfúgio se rebelar contra o subterfúgio?

Osho: A rebelião da qual eu tenho falado não tem que ser feita contra ninguém. Ela não é, na verdade, uma rebelião, mas somente uma compreensão. Não, você não tem que lutar contra os padres, as freiras e os pais externos. E você não tem também que lutar contra os padres, freiras e pais internos. Porque, internos ou externos, eles estão separados de você. O externo está separado, e o interno também está separado. O interno é apenas o reflexo do externo.

Você está perfeitamente certo ao dizer: ‘parece que não vale a pena rebelar-me contra aquelas pessoas velhas e desamparadas’. Eu não estou dizendo a você para se rebelar contra aquelas pessoas velhas e desamparadas. E eu também não estou dizendo a você para se rebelar contra tudo o que eles incutiram em você. Se você se rebelar contra sua própria mente, isso será uma reação, não uma rebelião. Note a diferença. A reação surge a partir da raiva; a reação é violenta. Numa reação você se torna cego de raiva. Numa reação você passa para o outro extremo.

Por exemplo, se os seus pais ensinaram você a ficar limpo e tomar um banho todo dia, e mais isso e mais aquilo, e se foi ensinado a você desde pequenino que a limpeza está próxima de Deus; o que você fará, se um dia você começar a se rebelar? Você vai parar de tomar banho. Você vai começar a viver imundo.

Isso é o que os Hippies seguiram fazendo ao redor do mundo. Eles pensavam que isso era rebelião. Eles passaram para o outro extremo. A eles foi ensinado que a limpeza era divina; agora eles estão pensando que a imundície é divina, que a sujeira é divina. De um extremo, eles passaram para o outro. Isso não é rebelião. Isso é raiva, isso é ira, isso é desforra.

Enquanto você estiver reagindo aos seus pais e às suas ideias de limpeza, você ainda está apegado àquelas mesmas ideias. Elas ainda estão dentro de você, elas ainda têm um poder sobre você, elas ainda são dominantes, elas ainda são decisivas. Elas ainda decidem a sua vida, embora você tenha se tornado o oposto delas; mas elas decidem. Você não pode tomar um banho tranquilo, pois você se lembrará de seus pais que o forçavam a tomar banho todos os dias. Agora você não quer tomar mais banho, de jeito algum.
Quem está dominando você? Ainda os seus pais. O que eles fizeram com você, você ainda não foi capaz de desfazer. Isso é uma reação, isso não é rebelião.

Então, o que é rebelião? Rebelião é pura compreensão. Você simplesmente compreende qual é o caso. Então, você não fica mais obcecado por limpeza, e isso é tudo. Isso não quer dizer que você vá se tornar sujo. A limpeza tem sua própria beleza. Mas a pessoa não deve ficar obcecada por ela, porque obsessão é doença.

Por exemplo, uma pessoa lavando suas mãos continuamente por todo o dia – isso é neurose. Lavar as mãos não é uma coisa ruim, mas lavar suas mãos por todo o dia é loucura. Mas se, de lavar as mãos por todo o dia, você passar a não as lavar; se você parar de lavá-las para sempre, então de novo você terá caído na armadilha, num outro tipo de loucura, o tipo oposto.

Um homem de compreensão lava suas mãos quando é necessário, ele não está obcecado com isso. Ele é simplesmente espontâneo e natural a respeito disso. Ele vive inteligentemente e isso é tudo.

Mas, se você não prestar muita atenção nos pequenos detalhes, não verá muita diferença entre obsessão e inteligência. Por exemplo, se você cruzar com uma cobra no caminho e você der um salto, naturalmente você deu um salto devido ao medo. Mas esse medo é inteligência. Se você não for inteligente, for estúpido, você não vai pular para fora do caminho e, desnecessariamente, estará colocando a sua vida em perigo. A pessoa inteligente irá pular imediatamente – a cobra está ali. Isso é devido ao medo, mas esse medo é inteligente, positivo, está a serviço da vida.

Mas esse medo pode se tornar obsessivo. Por exemplo, você pode não querer sentar dentro de uma casa. Quem sabe, ela pode desmoronar? E sabe-se que casas se desmoronam, isso é verdade. Algumas vezes, elas têm desmoronado; você não está absolutamente errado. Você pode argumentar: ‘se outras casas desmoronaram, por que não esta?’ Agora você está com medo de viver sob qualquer teto – ele pode desabar. Isso é uma obsessão. Isso agora se tornou não-inteligente.

É bom estar alerta de que você está comendo um alimento limpo. Mas eu conheço um homem, um grande poeta… Certa vez, ele viajava comigo. Sua esposa me contou: “Agora você saberá o quanto é difícil viver com esse homem”. Eu perguntei: “Qual é o problema?”. Ela disse: “Você vai saber por si próprio”. Ele não bebia nenhum chá, nem água, em nenhum lugar. Era muito difícil, porque ele dizia: ‘quem sabe se não existem germes no chá ou na água?’ Ele não comia em nenhum hotel. Isso se tornou um tal problema… E nós tínhamos que viajar trinta e seis horas de trem e ele estava morrendo de fome e com sede, e ele não bebia água.

Eu tentei, de toda maneira, persuadi-lo. Ele dizia: ‘Não. Quem sabe? E se houver germes? É melhor’, dizia ele, ‘passar fome por trinta e seis horas e não comer. Eu não vou morrer, não se preocupe’. Mas eu podia ver que o homem estava torturando a si mesmo. Era um verão muito quente e ele estava com sede. E eu tentava em toda estação – eu trazia soda, trazia Coca-Cola, eu trazia tudo que podia. Mas ele dizia: ‘Esqueça isso – eu não posso tomar nada a não ser que eu esteja absolutamente seguro. Qual é a segurança? Qual é a garantia?’

E ele não estava absolutamente errado, isso é verdade. Você conhece a Índia, e você conhece as estações indianas e os hotéis indianos. Você sabe. Ele está certo, mas agora ele está levando essa lógica longe demais.

Então, eu disse a ele: ‘Pare de respirar também!’ Ele disse: ‘Por que?’ Eu disse: ‘Quem sabe, qual é a garantia? Pare de respirar! Ou beba esta água ou pare de respirar!’ Então, ele olhou para mim assustado, porque eu estava realmente raivoso. ‘Por que você segue respirando? Quem sabe, podem existir germes, existem germes em toda parte’.
Ele tomou uma xícara de chá, mas a maneira como ele tomou…! Sua face… Eu não consigo esquecer. Já se passaram dez anos, mas eu não consigo esquecer a sua face – era como se eu estivesse matando aquele homem! Eu era um assassino! E ele estava obrigando-me a isso.

Na estação seguinte, ele desceu e disse: ‘Eu não posso viajar com você; eu vou voltar para casa’. Eu disse: ‘Qual é o problema?’ Ele disse: ‘Você estava com tanta raiva, e parecia que você ia começar a me bater ou alguma coisa assim. E você disse: Não respire mais. Como eu posso parar de respirar?’ Eu disse: ‘Eu só estava dando a você um argumento, que se você pode respirar, por que não beber a água? É a mesma água indiana e o mesmo ar indiano. Não há com que se preocupar’. Ele se recusou a viajar comigo. Eu tive que viajar sozinho. Ele retornou e, desde então, eu nunca mais o vi.

A pessoa pode se tornar obsessiva a respeito de qualquer coisa.

Qualquer coisa que pode ser inteligente dentro de certos limites, pode se tornar uma neurose se você ampliar esses limites. Reagir é passar para o outro extremo. Rebelião é uma compreensão muito profunda, compreensão profunda de um certo fenômeno. A rebelião sempre mantém você no meio, ela dá a você um equilíbrio.

Você não tem que brigar com ninguém, as freiras e os padres e os pais, externos e internos. Você não tem que brigar com ninguém, porque numa briga você nunca sabe onde vai parar. Numa briga, a pessoa perde a consciência; numa briga, a pessoa passa logo para os extremos. Você pode observar isso.

Por exemplo, você está sentado com seus amigos e, no meio da conversa, você diz: ‘Aquele filme que eu vi ontem não vale a pena ser visto’. Isso pode ter sido um comentário à-toa, mas então alguém diz: ‘Você está errado. Eu também vi o filme. Ele é um dos mais belos filmes que já foram feitos’. Você foi provocado, desafiado; e agora você se enche de argumentos. Você diz: ‘ele não tem valor, é a coisa mais sem valor que existe!’ E você começa a criticar. E se o outro também insistir, você vai se tornar mais e mais raivoso e vai começar a dizer coisas que você nem mesmo tinha pensado a respeito. E mais tarde, se você olhar para trás e ver todo o fenômeno que aconteceu, você ficará surpreso, pois quando você mencionou que o filme não valia a pena ser visto era uma afirmação muito moderada, mas com o passar do tempo você adotou argumentos e você já estava em uma posição extremada. Você usou tudo que era possível, todas as palavras mais desagradáveis que você conhecia. Você condenou de toda maneira, você usou toda a sua habilidade para condenar. E você não estava com disposição para fazer isso no começo. Se ninguém tivesse contestado você, você poderia ter esquecido aquele assunto, você não iria nunca fazer aquelas afirmações pesadas. Isso acontece – quando você começa a brigar, a tendência é você passar para os extremos.

Eu não estou ensinando você a brigar com seus condicionamentos. Compreenda-os. Torne-se mais inteligente a respeito deles. Simplesmente, veja como eles dominam você, como eles influenciam o seu comportamento, como eles modelam a sua personalidade, como eles seguem atingindo você pela porta dos fundos. Simplesmente observe! Seja meditativo. E um dia, quando você tiver visto o funcionamento dos seus condicionamentos, de repente um equilíbrio será alcançado. Em sua real compreensão, você estará livre.

Compreensão é liberdade, e essa liberdade eu chamo rebelião.

O verdadeiro rebelde não é um lutador; ele é um homem de compreensão. Ele simplesmente cresce em inteligência, não em raiva, não em ira. Você não consegue transformar a si mesmo tendo raiva de seu passado. Dessa maneira, o passado irá continuar dominando você, o passado continuará sendo o centro de seu ser, o passado permanecerá o seu foco. Você permanecerá focado, preso ao passado. Você poderá passar para o outro extremo, mas você ainda continuará preso ao passado.

Fique alerta quanto a isso! Esse não é o caminho de um meditador, esse não é o caminho de um sannyasin. Sannyas é rebelião – rebelião através da compreensão. Simplesmente compreenda.

Você passa ao lado de uma igreja e um profundo desejo surge em você de ir ao interior e orar. Ou você passa ao lado de um templo e inconscientemente você se curva diante de uma divindade do templo. Simplesmente observe. Por que você está fazendo essas coisas? Eu não estou dizendo para brigar. Eu estou dizendo para observar. Por que você se curva diante do templo? Porque foi ensinado a você que esse é o templo certo, que a divindade desse templo é a imagem verdadeira de Deus. Você sabe? Ou isso foi simplesmente dito a você e você continua seguindo isso? Observe!

Vendo isso, que você está simplesmente repetindo um programa que foi dado a você, que você está simplesmente repetindo um mesmo disco em sua cabeça, que você está sendo um autômato, um robô, você irá parar de se curvar. Não que você tenha que fazer qualquer esforço, você simplesmente irá se esquecer de tudo a respeito disso. Isso irá desaparecer, isso abandonará você sem deixar qualquer traço.

Quando você reage, o traço permanece lá. Mas, na rebelião não fica nenhum traço; é liberdade completa.

Você tem simplesmente que ser um observador. E o observar é a sua face original; aquele que observa é a sua consciência verdadeira. Aquilo que é observado é o condicionamento. Aquele que observa é a fonte divina de seu ser.
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OSHO – The Secret – discurso n. 14 – pergunta n.5
– Tradução: Sw. Bodhi Champak – Copyright © 2006 OSHO INTERNATIONAL FOUNDATION, Suíça 
Fonte: https://trabalhadoresdaluz.altervista.org