MARIA MADALENA
DESMISTIFICANDO AS INJÚRIAS
DA IGREJA DE ROMA
INTRODUÇÃO
Nada
concreto, nada provado, nada completo; apenas fragmentos de verdades e
reflexões.
Acho
que, em uma realidade tridimensional, jamais teremos uma verdade completamente
revelada. Até as verdades científicas são factíveis de mudanças porque, com o
tempo, outras verdades se sobrepõem a elas.
No
caso em foco, somente o retorno de Jesus poderia nos esclarecer os mistérios
dessa mágica história e desse tão enigmático quanto magnífico personagem,
chamado Maria Madalena.
As
únicas fontes de que dispomos para desvendar a vida desta Maria são os
Evangelhos: os canônicos e os apócrifos; principalmente estes, ou o que nos
restou destes. Alguns autores aventuram-se mais além, escavando indícios na
história de outros personagens ou sociedades que a citam em meio à sua
história... como os Cátaros, por exemplo.
Foram
tantas Marias atribuídas a ela... Foram tantas histórias inventadas e outras
tantas histórias ocultadas sobre ela...! Seu nome foi vilipendiado pela Igreja
Católica Romana e seu apostolado negado; seus ensinamentos da real doutrina do
Cristo – o Cristianismo Puro – foram sepultados junto a seus seguidores, em
sangrento e cruel genocídio, na França medieval.
Ora,
para ser tão temida e odiada, pressupõe-se que seja muito importante e
influente, caso contrário, seria apenas ignorada.
O
escritor, jornalista e teólogo Juan Arias,
autor da obra “Madalena, o último tabu do
Cristianismo” (2006), afirma, em entrevista:
Nem prostituta, nem mulher vulgar e
endemoniada. As lendas criadas desde as origens do Cristianismo, em torno da
personagem bíblica Maria Madalena, são falsas. Mulher culta, de família
abastada e extremamente inteligente, Maria Madalena não só era casada com Jesus
de Nazaré – com quem tinha, naturalmente, relações carnais – como foi o
apóstolo que ele mais amou e a quem mais confiou a propagação da doutrina cristã.
Está em todos os Evangelhos reconhecidos pela Igreja: foi para Maria Madalena
que Jesus ressuscitado apareceu primeiro, escolhendo-a como mensageira da
notícia de sua ressurreição aos outros apóstolos, escondidos e atemorizados
após a crucificação.
Mas por que então, desde o início dos
tempos, a Igreja Católica tratou de obscurecer a imagem de Madalena? Por que a
fiel e dedicada companheira de Jesus foi convertida em uma vulgar prostituta?
Por que o Cristo Nazareno não escolheu um homem para anunciar a boa-nova? Por
que foi Madalena e não Pedro o escolhido? [...]
Segundo
o autor, a implantação da corrente masculina da Igreja representou uma
verdadeira traição à ideia original de Jesus, confiada sobretudo a Maria
Madalena e às mulheres.
[...] Sobretudo à luz dos novos evangelhos
gnósticos, descobertos em 1945 no deserto do Egito, e também nos evangelhos
oficiais – que Maria Madalena foi escolhida por Jesus para ser a verdadeira
fundadora do Cristianismo, e não Pedro, a Igreja deveria revisar não só o papel
da mulher na Igreja, mas toda a sua história e verdadeiras raízes.
[...] O que ocorre é que a importância de
Maria Madalena e de suas relações íntimas com Jesus (é para ela simplesmente
que ele aparece primeiro depois de ressuscitar) têm a mesma força nos
evangelhos canônicos que nos apócrifos. Hoje existem biblicistas que defendem
que o IV evangélico canônico pode ter sido escrito por Madalena (e não por
João).
Passeando
pela história pregressa desta Terra e sua humanidade, envolvendo essa
enigmática personagem, vamos tentar oferecer subsídios à sua reflexão e
provocar sua mente a tecer suas próprias conclusões e conjecturas. Penso que a
magia da história humana é, simplesmente, descobri-la, juntando peças soltas de
um intrincado quebra-cabeças. Venha comigo nessa aventura!
A CONFUSÃO DE VÁRIAS
MARIAS
O
nome Mariam ou Miriam (latim = Maria) era comum entre os judeus à época de
Jesus (Séc. I), em homenagem à esposa de Herodes, o Grande: Mariam.
-
MARIA, DE MAGDALA (Israel = Magdalena;
Grego: Magdalini): uma mulher que acompanhou Jesus desde o início de seu apostolado.
Era procedente de Magdala, ou Mejdel (por isso: Magdalena = Madalena), uma rica
vila de pescadores, a noroeste do Mar da Galileia. E seria a mesma mulher de
quem Jesus teria expulsado sete demônios e que se tornou sua seguidora.
Assim se reporta a ela o
Evangelho de Lucas (8, 1-4): Jesus “era
acompanhado dos 12 apóstolos e de algumas mulheres que tinham sido curadas de
espíritos malignos e enfermidades, entre elas Maria, chamada Madalena, de quem
haviam saído sete demônios”.
Se considerarmos que, à
época de Jesus, no conceito judaico, qualquer tipo de transtorno psíquico ou
fenômenos paranormais era tido como possessão diabólica, estar possuído por um
demônio era consequência do pecado, fundamentalmente do “pecado de sexo”. E se Jesus
livrou Maria de Magdala de sete demônios, então tratava-se de uma prostituta
comum.
Sabe-se que, na cultura
judaica e conhecimento esotérico, há números cabalísticos que carregam um
significado simbólico: o 3 (trindade divina, Sagrada Família); o 7 (A Criação
divina em 7 dias, 7 pecados capitais, 7 chakras, 7 cores do arco-íris, 7 dias
da semana, 7 notas musicais, etc.), então, esses sete demônios de Madalena
podem não ter uma interpretação literal (metáfora
dos sete egos?), e sim simbólica da ascensão espiritual pelo domínio dos
estados inferiores de consciência.
Nesse
caso, Madalena representaria a purificação alcançada pelo trabalho espiritual, “condição para que depois pudesse receber a
Gnose e transmiti-la ao mundo”. É a Alma purificada para seu retorno à
Divindade, o que os movimentos espiritualistas atuais chamam de “ascensionar”.
Conforme
dizia Gustav Jung, a encarnação de Deus na humanidade envolve a elevação do
princípio feminino e seu retorno ao status divino ou semidivino. Nesse
contexto, a Virgem Maria e Maria Madalena representam os dois aspectos
encarnados pela Sofia dos Gnósticos, para que o Cristo pudesse se manifestar na
matéria e na alma de todos os homens: a mãe do Cristo e a noiva do Cristo.
[...] Há inclusive quem pense que aquele
ter “arrancado dela sete demônios” poderia significar que a alma de Madalena
vencera todas as formas do mal, quer dizer, que Jesus a purificou de todo o
mal. Esta é a teoria de Jacir de Freitas Faria, inspirando-se no Evangelho
gnóstico de Madalena. No Evangelho gnóstico, se diz que Maria Madalena
“conheceu o Todo”, ou seja, foi uma iniciada nos mistérios de Jesus e uma
“inspirada”.
No entanto, durante séculos, a Igreja
considerou Madalena como o símbolo do pecado de sexo e como a pecadora
arrependida, para colocá-la em oposição, sem dúvida, a Maria - a Virgem
Imaculada. Madalena seria o espelho de Eva, o primeiro símbolo do pecado.
A partir do século X, Maria Madalena foi
considerada como “exemplo de perdição do mundo”, segundo a afirmação do papa
Gregório Magno (540-604), que chegou a qualificá-la como “escrava da luxúria”.
Honório de Autun, no século XII, escreveu que ela viveu “atormentada por
desejos impuros”. Por isso, Madalena, segundo a dita tradição [católica],
passou a vida escondida em uma gruta, no deserto, fazendo penitência e
mortificando sua carne. (ARIAS, Juan)
O paradigma da penitência
e mortificação para agradar a Deus e se redimir dos “pecados da carne” tem
feito a humanidade rastejar, há milênios, em busca dessa metamorfose redentora que
nunca se concretiza porque a natureza humana não consegue se livrar da energia
sexual. Está em nosso DNA. Aliás, a repressão ao sexo sempre foi útil ao
espírito controlador e dominador do poder religioso, porque inibe a energia
compassiva, amorosa e fraterna.
Dentro de uma cultura
machista e dominadora, que demonizou a energia sexual para que fosse sepultado
o Sagrado Feminino (energia da deusa)
e com ele a compaixão e a concórdia, não se podia admitir que um ser divino se
envolvesse com mulheres, ainda que esposas. Jesus tinha que ser casto,
assexuado, celibatário para servir aos propósitos de domínio e controle da
Igreja romana.
-
MARIA, DE MAGDALAH (Etiópia):
peregrina que teria conhecido Jesus em Alexandria (Egito) e se juntado a ele,
na sua peregrinação missionária.
Estudiosos apresentam uma
outra versão de que Madalena não seria da cidade judia de Magdala, mas sim da
cidade de Magdallah, na Etiópia, peregrina que poderia ter encontrado Jesus em
suas andanças pelo Egito, mais precisamente em Alexandria. Talvez Maria fosse
negra, ou de pele muito escura.
Isso explicaria a teoria
da “Madona Negra” ou a “Santa Sara”, protetora do povo cigano.
-
MARIA, DE BETÂNIA: irmã de Lázaro e
Marta. Aqui a confusão se faz por uma citação do Evangelho de João (12, 1-8),
de que seis dias antes da Paixão de Jesus, estando ele ceando em casa de seu
amigo Lázaro, sua irmã Maria, tomou uma libra de perfume de nardo puro, muito
caro, ungiu os pés do Mestre e os secou com os cabelos.
Ora, é a mesma história da
“pecadora pública” (prostituta),
contada no Evangelho de Lucas... Qual das duas é a verdadeira?
-
PECADORA (prostituta) ARREPENDIDA:
a intrusa que chora aos pés de Jesus, lavando-os e secando-os com seus longos
cabelos, segundo a versão bíblica (Lucas
7, 36-50), trata-se de uma pecadora que se arrependeu e foi perdoada pelo
Mestre. Não se fala no nome dessa mulher, mas, em 595 d.C., o Papa Gregório
decidiu que Maria Madalena seria essa mulher, crença que foi imposta em todo o
mundo cristão, até os dias atuais.
[...] Convertendo Madalena em uma simples
prostituta arrependida, que passou o resto de sua vida fazendo penitência por
seus pecados, se faz com que ela não mais apareça como uma mulher especial, a
mais próxima de Jesus, ou como a mulher que recebeu do Mestre seus segredos
mais bem guardados, a primeira “apóstolo”, aquela que, talvez, teria que ter
sido – quem sabe – a verdadeira fundadora do Cristianismo, principalmente por
ter sido a primeira e única testemunha da ressurreição. (ARIAS, Juan)
A Igreja Romana juntou
Maria de Magdala, a obsidiada; Maria, irmã de Lázaro, e a pecadora arrependida sem
nome em uma única pessoa para tecer a história dessa personagem bíblica. Porém,
nos evangelhos, fica claro tratarem-se de pessoas distintas.
Em contraposição, a Igreja
oriental sempre as manteve personagens distintas. Para a Igreja grega, por
exemplo, Madalena era, inclusive, uma virgem.
Vários
escritores orientais saudaram o papel de Madalena durante os fatos da Páscoa,
vendo-a como uma mulher honrada e até mesmo apóstola do Mestre.
Cirilo de
Alexandria, que era árduo acusador dos gnósticos nestorianos, em 444, dizia que
as mulheres eram duplamente honorificadas, através de Maria Madalena, que fora
testemunha da ressurreição.
Citam-se,
ainda, Proclus, patriarca de Constantinopla (446), Gregório de Antioquia (593)
e Modestus, patriarca de Jerusalém (630).
Confrontando
seus pares da Igreja Romana, Santo Agostinho era um dos poucos a considerá-la a
mulher mais importante dos evangelhos (a Apóstola das apóstolas), destacando-a
das demais personagens femininas, em seu escrito "A Harmonia dos
Evangelhos".
Desde o Concílio Vaticano
II (11/10/1962 – papa João XXIII), a
Igreja romana já não considera Maria Madalena como uma prostituta. Como tudo
que pode causar qualquer alteração nas crenças de seus fiéis é feito de maneira
velada, essa modificação de postura eclesiástica se fez quase que em silêncio,
tanto que a maioria dos católicos ainda veem Madalena como a prostituta
arrependida, sem a mínima ideia de que seus bispos e cardeais voltaram atrás
nesta calúnia desmedida.
Nos ofícios da festa
litúrgica (22 de julho), Madalena já
não figura mais como a “penitente pecadora”. Na nova liturgia desta data, no
lugar da passagem de Lucas 7, 36-50, em que se descreve a unção da prostituta
em Jesus, lê-se agora o Evangelho de João 20, 1-2 e 11-18, onde se narra que
Maria Madalena foi a primeira a se dirigir ao sepulcro, após a crucificação, e
a primeira a anunciar aos apóstolos que o Mestre estava vivo.
Motivos escusos teriam
levado o Clero Romano a apagar da memória do Cristianismo uma figura
proeminente que os ameaçava, pregando amor e liberdade, já que se tratava de
uma instituição totalmente masculina, dominadora e controladora?
Só o que se sabe é que ela
é uma das Marias que acompanhava Jesus em suas viagens, cuidando e provendo as
necessidades do Mestre.
[...] Reconhece-se hoje o que ela não foi,
porém ainda não se tem a coragem de admitir qual foi seu verdadeiro papel na
fundação do cristianismo e, menos ainda, em suas relações, inclusive
sentimentais, com o profeta de Nazaré, tão bem documentadas nos Evangelhos
canônicos e não só nos apócrifos. (ARIAS,
Juan)
-
MESTRA: para os esotéricos da Nova
Era, Madalena é uma mestra ascensionada que sustenta o Raio Vermelho Divino, na
Fraternidade Branca da Terra: Mestra NADA. E que também é o Complemento Divino (Alma-Gêmea) de Mestre Sananda (Jesus).
- SACERDOTISA DE ISIS: segundo Xavier Pedro
Gallego, pesquisador espanhol, escritor, palestrante e estudioso dos Essênios,
Maria Madalena, antes de encontrar Jesus, era uma sacerdotisa do Templo de
ISIS, na Ilha de Philae/Egito. Tratava-se de uma Escola de Tantra Egípcio (espiritual), onde as Sacerdotisas de ISIS eram chamadas “Putas”; porém, tal nome naquela época
não tinha o significado de prostituta, proscrita por vida devassa: simplesmente
significava “sacerdotisas de tantra
egípcio” (Hieros Gamos). Provavelmente, decorre daí a confusão ou a
tergiversação da sua condição como mulher pecadora, propagada pela Igreja
Romana.
Logo que sai do Templo
para a vida pública, de volta à Magdala, sua cidade natal, encontra-se com
Jesus (que por lá pregava) e é
instantaneamente envolvida pela energia do Mestre, ou seja, ela reconhece de
pronto a sua Chama-Gêmea. A partir daí, começa a segui-lo e a trabalhar com
ele, inclusive aportando recursos financeiros. Maria era herdeira de família
nobre de Magdala.
No
judaísmo, era permitido que mulheres ajudassem e servissem com seus bens a
rabinos e seitas, no entanto, não lhes era permitido participar ativamente dos
rituais e ficavam separadas nas sinagogas. Tal atitude era devido ao status que
as mulheres tinham nas comunidades judaicas, e ao fato de serem consideradas
impuras e portadoras do pecado original
UMA MARIA ESPECIAL
É na Paixão que Maria Madalena aparece como uma das
testemunhas dos eventos principais da obra do Cristo, citada em três dos quatro
Evangelhos.
No
Evangelho de João, Maria Madalena é a única mulher, além da mãe, que permaneceu
ao lado da cruz, durante a agonia de Jesus.
José de
Arimatéia e Maria Madalena são os personagens principais do sepultamento do
Cristo. Um representa o rigor que recolhe o corpo físico de Jesus para
sepultá-lo, e a outra representa a misericórdia de quem quer prepará-lo de
acordo com as tradições judaicas. Coincidentemente, ambos são tidos como os
portadores do cálice sagrado, ou o Santo Graal, tendo José de Arimatéia o
levado à Inglaterra e Maria Madalena à França.
E
foi ela quem primeiro testemunhou o Cristo ressurreto.
Mas
são nos Evangelhos ditos apócrifos, pela Igreja Romana, que as Marias, tanto a
Madalena quanto a mãe de Jesus se mostram como presenças fortes e exercendo
liderança ao lado do Mestre.
Em
1945, em Nag Hamadi, região desértica do Alto Egito, foram encontrados, em
língua copta, os Evangelhos de Tomé e de Maria Madalena. Este último,
infelizmente, bastante fragmentado, não se sabe se por contingências do tempo
em que ficou perdido ou por conta do “decreto Gelasiano” (Papa Gelásio – 492-496), contendo uma lista de 60 livros apócrifos
do Segundo Testamento, que os cristãos católicos não deveriam tomar
conhecimento. Muitos foram destruídos e outros tantos para a fogueira.
Jesus rompeu com inúmeros paradigmas, quebrou com
várias regras estabelecidas pela comunidade judaica, e dar um papel mais
importante às mulheres dentro de seu grupo foi uma dessas regras. Ele
conversava diretamente com elas, ministrava-lhes conhecimentos sagrados, e se
deixava tocar por mulheres consideradas impuras pelos judeus tradicionais.
Nos
apócrifos, as mulheres tinham uma atuação marcante no cristianismo,
destacando-se Maria Madalena, Maria mãe de Jesus, Tecla, Verônica... A mãe do Mestre,
por exemplo, nada tinha daquela mulher sofredora e subserviente dos Evangelhos
canônicos, e sim uma que discute no mesmo nível com os apóstolos e tem
liderança entre eles. Tecla era companheira de Paulo de Tarso na evangelização
e batizava, mas logo no início do Cristianismo sua voz foi silenciada.
Tertuliano, que combateu o movimento das mulheres cristãs, por volta do ano
200, escreveu: “...Que elas se calem e
que questionem, em casa, os seus maridos”.
Em 325 d.C, reuniram-se em Nicéia de Bitínia (Turquia) 318 bispos cristãos para decidir
os destinos da humanidade, liderados pelo então imperador romano Constantino I
- o que ficou conhecido na história como o Concílio de Nicéia. Desse evento
saiu a instituição Igreja Católica Apostólica Romana que temos hoje, liderando
por séculos e séculos a cristandade, mais especificamente nós, ocidentais.
Dos mais de trinta evangelhos dos apóstolos e
seguidores do Grande Mestre Jesus elegeram-se os quatro que menos
comprometeriam os intentos espúrios de dominação, tanto do clero quanto do
governo de Roma, ainda assim, enormemente tergiversados. Muito se foi subtraído
e acrescentado aos textos originais.
Mais tarde, instituíram o papado e sua
infalibilidade, obrigando-se assim a humanidade a uma absoluta obediência à
Igreja e, indiretamente, ao Estado. Durante séculos, esta foi a maior forma de
controle político da história, sem que houvesse qualquer reação popular, uma
vez que se estava cumprindo a vontade de Deus.
Proibiram a crença na reencarnação e instituíram a
dualidade céu-inferno como um lugar físico para onde iria a criatura após a
morte, ou seja, a felicidade eterna (céu) ou o fogo eterno (inferno). O céu para quem
obedecesse aos preceitos da Igreja (Estado) e o inferno para os desobedientes.
Com isso, surge o Deus vingativo e cruel que nada tem do "Pai Amoroso" a quem Jesus sempre se referia. O
homem seguiu os preceitos religiosos por medo e não por consciência.
"Pai-Filho-Espírito Santo" foi a única trindade
exclusivamente masculina de todas as culturas. Todas as outras constituíam-se
do Deus Pai (princípio masculino
criador), Deus Mãe (princípio
feminino criador) e Filho (a criação). A mulher era totalmente excluída
de qualquer função religiosa e, para reforçar tal rechaço machista,
transformaram Maria Madalena - a sacerdotisa de Jesus - em uma reles prostituta
arrependida. (Blog ALMA CÉLTICA)
Hoje,
“as pessoas estão descobrindo a Maria Madalena mulher, discípula de Jesus,
líder entre os primeiros cristãos. E por que não ‘apóstola’ e mulher que Jesus
tanto amou?” (Jacir de Freitas Faria).
E o testemunho desta condição especial de
Maria Madalena é dado pelo Evangelho apócrifo de Filipe, ao narrar: 1) “A companheira de Cristo é Maria
Madalena. O Senhor a amava mais do que a todos os discípulos e a beijava
frequentemente na boca. Aquele que é beijado pela boca; se o Logos tivesse
saído dali, se alimentaria pela boca e seria perfeito. Os perfeitos são
fecundados por um beijo e engendram." (Evangelho de Felipe v.31). 2) Os discípulos viram-no amando Maria e lhe disseram: Por que a amas mais que a todos nós? O
Salvador respondeu dizendo: Como é que eu
não vos ame tanto quanto a ela? (Filipe 63, 34-64,5). 3) Em Filipe 32, lemos: Eram três [mulheres] que acompanhavam o
Senhor: sua mãe Maria, a irmã dela, e Madalena, que é chamada sua companheira”.
4) Em Felipe, 55-56, Maria Madalena
também é tida como a "discípula mais amada do Senhor", simbolizando a
importância dos mistérios divinos femininos para a reintegração da Alma.
O carinho especial do Mestre, em relação à Maria Madalena, fica claro em
algumas citações do livro gnóstico “Pitis
Sofia”:
Livro
1, cap.17: Maria Madalena pede permissão para interpretar as
palavras de Jesus e ouve do mestre: "Maria,
tu, a abençoada, a quem vou aperfeiçoar em todos os mistérios do Alto, fala com
franqueza, tu, cujo coração está mais voltado ao reino de Céu do que todos teus
irmãos".
Livro
1, cap.34: Maria Madalena pede permissão para interpretar as
palavras de Jesus e ouve do mestre: "Excelente,
Maria, abençoada, a plenitude, ou a plenitude de toda benção, tu que será
abençoada por todas as gerações".
Livro
1, cap.61: Maria Madalena pede permissão para interpretar as
palavras de Jesus e ouve do mestre: "Bem
dito, ser abençoado, que herdará todo o Reino da Luz".
“Ela é descrita,
então, como ‘aquela que vê’, que é capaz de discernir a Luz no escuro, e que é
a Companheira de Jesus, sua Consorte. É a Sofia Celeste, que através do
casamento alquímico, é capaz de transmutar seu corpo material em um corpo de
glória, e que é preparada pela Gnose para ascender ao Reino Eterno”.
A MARIA QUE A IGREJA
ROMANA INVENTOU
-
Maria Madalena torna-se a “pecadora (prostituta) arrependida, de quem Jesus
expulsou sete demônios”, como já mencionamos, por obra e graça do Papa
Gregório, em 595 d.C.
-
Quando Jesus ressurreto encontra os apóstolos, sopra-lhes os dons do Espírito e
os manda sair e pregar, os Evangelhos canônicos não incluem Maria Madalena
neste ato do Cristo, portanto, não a incluindo como discípula e agora apóstola
de Jesus; apesar de sua notória e singular presença na vida do Mestre.
-
Como discípula e apóstola, Maria Madalena seria a única mulher com autoridade
de ensino em uma sociedade, cultura e instituições religiosas machistas.
-
Ao contrário disso: prostituta. Quem daria ouvidos a uma
prostituta? Além de afastarem uma mulher de seu meio, também poderiam manter
anônimos os mais significativos ensinamentos libertadores e empoderadores,
totalmente adversos aos propósitos daqueles interessados em exercer um poder controlador
sobre as massas. Assim, todos os Evangelhos que destacavam a importância de
Maria Madalena foram declarados “apócrifos” (não
confiáveis).
“Quanto mais ela
era reverenciada pelas comunidades gnósticas, mais a igreja de Roma a
transformava no epíteto da mulher caída. De mensageira do evangelho ela se
tornou, então, o símbolo da mulher que a sociedade da época adotava: do século
III em diante, as mulheres já não têm participação ativa na comunidade cristã
sob o domínio de Roma, e esta passa a se basear em um triunvirato masculino de
bispos, sacerdotes e diáconos. Elas estão marcadas pelo pecado original e são
exemplos de impureza. Apenas Maria, a mãe de Jesus, tem o seu status
inalterado, passando a englobar em si todas as características positivas dos
mistérios femininos”.
O APOSTOLADO DE MARIA
O
Divino pode ser ocultado, mas não pode ser apagado. No Sec. XI, o culto à Maria
Madalena foi restaurado no sul da França, cujos seguidores jamais aceitaram o
estigma de “mulher decaída”. Ao contrário, ao longo da história, Madalena
é considerada a apóstola da França.
L'église de la Madeleine (Paris) |
Uma
das muitas hipóteses da vida de Madalena, após a ascensão de seu “Rabi”, é que
ela tenha fugido para a França, onde reiniciou seu apostolado entre o povo
Cátaro. Versão esta que vemos retratada no filme “O Código Da Vinci”, de Dan
Brown.
SOBRE O POVO CÁTARO – os
cristãos puros:
Os
Albigenses (da região de Albi) ou
Cátaros (do grego “Kathares” = Puros)
eram um povo cuja cultura floresceu nos séculos 10 a 13 de nossa era e uma
civilização muito avançada com relação ao resto da Europa.
Seus
preceitos eram propagados verbalmente pelos Trovadores (Troubadors), cantores populares que iam de cidade em cidade
transmitindo a cultura evoluída deste povo.
Viviam
para a Fé, exerciam grande influência na Europa e Oriente Médio e diziam-se os
guardiões do Santo Graal.
Dentre
os preceitos e costumes dos Cátaros, citamos alguns, que vão deixar bem claro
os motivos pelos quais foram tão perseguidos pela Igreja Romana:
- Lá, os judeus eram
aceitos e podiam praticar sua religião em suas sinagogas, sem serem molestados;
- Todos eram convidados a
aprender a ler, inclusive as mulheres, e o índice de analfabetismo era quase
nulo;
- Existia terra e trabalho
para todos;
- As artes eram
estimuladas e os artistas valorizados;
- A alimentação era
abundante e dividida entre todos;
- Homens e mulheres tinham
os mesmos direitos e deveres e, ao reencarnarem, poderiam fazê-lo como um ou
outro gênero;
- A mulher, depois de
parir seu filho, não precisava ser purificada e bendita, já o sendo pela
maternidade;
- Cada bom cidadão, e
mesmo as mulheres, podiam pregar a doutrina;
- Um de seus maiores lemas
era: “o trabalho é uma prece”;
- Diziam que eram a
verdadeira Igreja de Cristo, pois seguiam a sua doutrina, dos evangelhos e dos
seus apóstolos, em palavras e obras;
- Ninguém é maior ou
melhor do que o outro na igreja (“... vós todos sois irmãos” – Mateus, 23:8);
- Os clérigos, monges,
bispos e abades não deveriam ter prebendas (cargos
remunerados) ou direitos reais;
- Ninguém deve ser forçado
a qualquer crença;
- Reprovavam títulos
dignitários, como Papa, Bispo, etc., e não aceitavam privilégios eclesiásticos;
- Desprezavam a imunidade de igreja, do clero e
suas coisas;
- A ordenação sacerdotal
nada vale, pois cada bom homem é um sacerdote, como os apóstolos foram simples
bons homens;
- A Doutrina do Cristo e
dos apóstolos é suficiente para a salvação, sem os estatutos da igreja;
- Diziam, também, que o
Cristo, nascido em Belém e crucificado em Jerusalém, era somente um homem (fisicamente), embora tivesse uma alma
divina;
-
E que a cruz de Cristo não deveria ser venerada, porque ninguém veneraria a
forca, na qual seu pai, parente ou amigo fosse crucificado;
-
Abominavam dogmas, doutrinas ou teologias fixas, e levavam uma vida de extrema
devoção e simplicidade. Seus rituais (meditações)
e serviços eram conduzidos ao ar livre ou algum local disponível.
-
No lugar da fé, aceita em segunda mão, os cátaros insistiam no conhecimento direto
e pessoal, em uma experiência religiosa ou mística (Gnosis = conhecimento), aprendida em primeira mão;
-
O propósito da vida do homem na Terra era o de transcender a matéria, renunciar
para sempre a qualquer coisa relacionada com o princípio do poder e, dessa
forma, atingir a união com o princípio do amor.
Esse
elenco de alguns preceitos dos Cátaros é suficiente para entender o porquê da
implacável e sanguinária perseguição da Igreja Católica sobre eles, que
culminou na completa extinção de toda uma cultura...
O
papa Inocêncio III decretou indulgência plena para quem fosse dizimar os
cátaros, na região de Langue D’Oc. Os cruzados poderiam matar, violentar e
roubar todos, sem distinção de sexo, idade ou ordem, que seus pecados seriam
imediatamente perdoados. Neste genocídio, a igreja romana teve o grande auxílio
dos reis Felipe Augusto e, depois, Luís VIII e seus nobres do norte da França,
interessados nas terras e riquezas daquela região.
Os
historiadores estimam que mais de quinhentas mil pessoas foram ali
assassinadas, nos poucos mais de 20 anos de duração dos combates.
Mas
havia mais...
JESUS E MARIA MADALENA – O
Casal Divino
Segundo
os Cátaros, Jesus e Madalena eram esposos e o Santo Graal era a própria Maria
Madalena, ventre (cálice) que gerou a
linhagem crística na Terra: a filha de Jesus. Era o início da mais sagrada de
todas as linhagens na Terra e que possivelmente, segundo alguns pesquisadores, deu origem à Dinastia
Merovíngia, de reis franceses.
Na
lenda cátara, Maria Madalena fugiu primeiro para o Egito e depois navegou para
a França, junto com Lázaro, suas duas irmãs Marta e Maria, e uma menina de mais
ou menos 12 anos, chamada Sarah. Sara seria filha de Jesus e Madalena que, mais
tarde, passou a ser venerada como Santa Sarah Kalli, protetora e padroeira dos
ciganos.
[...] O
Egito foi o lugar tradicional de asilo para os judeus, cuja segurança estava
ameaçada em Israel. Alexandria foi facilmente alcançada a partir de Judéia e
continha bem-estabelecidas comunidades judaicas da época de Jesus. Com toda a
probabilidade, o refúgio de emergência de Maria Madalena e José de Arimateia
foi o Egito. E, mais tarde - anos mais tarde - eles deixaram Alexandria e
procuraram um refúgio ainda mais seguro na costa da França.
[...] Na
cidade de Les Saintes-Maries-de-la-Mer, na França, há um festival a cada 23-25
maio, em um santuário em honra de Santa Sara, a egípcia, também chamada de Sara
Kali, a "Rainha Negra". Exame minucioso revela que este festival, que
teve origem na Idade Média, é em homenagem a uma criança "egípcia"
que acompanhava Maria Madalena, Marta e Lázaro, que chegou com eles em um
pequeno barco que desembarcou neste local, em cerca de 42 dC.” (Prof. Zezinho França)
Professor
Zezinho França (antropólogo,
teólogo e jornalista) tem uma versão
interessante e bastante coerente sobre a cor negra dessa suposta criança
trazida à França por Maria Madalena e José de Arimateia. Esta,
a meu ver, seria a hipótese mais plausível, tendo em vista que Jesus e Madalena
eram judeus, portanto não seriam negros e não poderiam gerar uma filha negra.
“Uma filha
de Jesus, nascida depois da fuga de Maria para Alexandria, teria cerca de 12
anos de idade na época da viagem para a Gália, registrada na legenda. Ela,
assim como os príncipes da linhagem de Davi, é simbolicamente negra, "não
reconhecido nas ruas" (Lamentações 4:08).
Sua
"negritude" teria sido simbólica de seu estado oculto, ela era a
rainha desconhecida – “não reconhecida, repudiada”, e difamada pela Igreja
através dos séculos, em uma tentativa de negar a linhagem legítima e manter
suas próprias doutrinas da divindade e celibato de Jesus.”
[...] Fósseis
de verdade permanecem enterrados em nossos símbolos, nossos nomes próprios de
pessoas e lugares, nossos rituais e contos populares. Isto entendido, é
plausível que a fuga para o Egito foi tomada pelo “outro José”, o José de Arimateia,
e "outra Maria", Maria Madalena, para proteger o feto de Jesus dos
romanos e os filhos de Herodes, depois da crucificação. As discrepâncias na
história e o conflito de gerações obviamente podem facilmente ser entendidos à
luz do perigo para a linhagem - que exigia o máximo sigilo quanto ao seu
paradeiro - e à luz do que o tempo decorrido antes que a história se
comprometeu a escrever. Este parece ser mais um caso de um mito que está sendo
formado, porque a verdade era muito perigosa para ser contada.
As Madonas
Negras dos santuários na Europa (séculos V e XII) poderiam, então, ter sido
veneradas como um símbolo desta outra Maria e seu filho, o Sangraal, que José
de Arimateia trouxe em segurança até a costa da França.
Os amigos de
Jesus, que acreditavam tão fervorosamente que ele era o Messias, o Ungido de
Deus, teriam percebido a preservação de sua família como um dever sagrado. O
navio, o cálice que encarna as promessas do Milênio, o "Sangraal" da
lenda medieval, era, eu passei a acreditar, Maria Madalena.
Pelas escrituras canônicas, fica claro que, após a
crucificação e ascensão de Jesus, Maria Madalena não estava mais em Jerusalém,
pois não se fala mais em seu nome, seja no Livro de Atos dos Apóstolos ou nas
cartas de Paulo. Como também não há mais menção de Maria, Marta, Lázaro ou José
de Arimateia. Em vez disso, pós-Ascensão, referências à Maria Madalena ocorrem
somente nos Evangelhos Gnósticos, nos quais ela é referida como a companheira
íntima de Jesus.
Há
muita literatura, desde a Idade Média, que retrata Madalena como sendo o
próprio Graal. Existe na literatura romântica do Séc. 18 e 19, e é bem definida
na literatura do final do Séc. XX, na obra “O Santo Graal e a Linhagem
Sagrada”, que entrelaça as várias lendas em um denominador comum.
Seria
esse o grande segredo que encerra o Santo Graal e que acabou por determinar o extermínio
em massa do povo Cátaro, pela Armada do Papa Inocêncio III (Cruzadas), matando mais de 10 mil cátaros, somente na cidade de
Bézier. Foi a partir desse sangrento massacre que as Cruzadas Católicas se
transformaram no Tribunal da Santa Inquisição, matando mais de um milhão de
pessoas.
Bèrenger de Saunière |
Consta
que no ano 1885, Bérenger de Saunière,
pároco do vilarejo de Rennes-le-Château, ao efetuar reparos em sua igreja,
descobriu que uma das antigas colunas visigóticas era oca e continha 4 rolos de
pergaminhos, dentro de tubos de madeira, lacrados. Esse Códice, possivelmente,
revelava sobre Maria Madalena e Jesus. Inclusive, um dos manuscritos
codificados que ele encontrou contém uma passagem, em latim, do Evangelho de
São João, que se refere à Madalena.
Incapaz
de traduzir o documento, Saunière comunicou sua descoberta ao Bispo de
Carcassone, Monsenhor Felix-Arsene Billard que, imediatamente, enviou os
pergaminhos e Saunière aos estudiosos eclesiásticos de Paris. Após visitar seus
superiores em Paris, Saunière voltou de lá totalmente modificado;
financeiramente modificado, melhor dizendo, com obras faraônicas na sua igreja,
colecionando porcelana rara, mármores antigos e tecidos preciosos; se
correspondendo com várias pessoas ao redor do mundo e recebendo hóspedes
ilustres, como o Ministro da Cultura do governo francês e o arquiduque Johann
von Habsburgo, primo de Franz Josej, imperador da Áustria.
O
recém-milionário Saunière empreendeu curiosas reformas em sua Igreja Santa
Madalena:
a) Inscreveu sobre o pórtico a frase: “Terribilis
est loeus iste” (Este lugar é terrível);
b) E no arco sobre o pórtico está a inscrição: “Esta
é a casa de Deus e o Portão Celestial”;
Asmodeus |
c) Na entrada, colocou uma escultura do demônio Asmodeus
(conhecido por guardar tesouros
escondidos), tendo sobre os ombros uma bacia de água benta.
d) Dentre os diversos simbolismos dentro da igreja,
o Santo Graal foi reconfigurado, colocando-se cinco santos dispostos em forma
de “M” (Madalena): São Germano, São
Roque, Santo Antônio de Pádua, Santo Antônio Eremita e São Lucas.
e) Nas pinturas que
representavam a Via Sacra, na Estação VIII, por exemplo, havia uma criança
envolvida em uma capa escocesa.
Era
como se estivesse tentando dizer algo que não pudesse ser falado
explicitamente.
Saunière
tinha verdadeira fixação por Maria Madalena e, na frente de seu palacete,
denominado “Villa Bethânia”, ele construiu uma torre, à qual chamou “A Tour
Magdale” (A Torre Magdala). Qual o
sentido daquela torre, não fosse para a defesa... Seria contra o ataque das
Cruzadas Católicas? Muitos acreditam que o súbito enriquecimento de Saunière
tenha sido em troca de seu silêncio. (foto)
Muito
se especula a respeito dos pergaminhos, dos quais nunca mais se teve notícias.
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Como
já dissemos, foi a partir da “heresia” cátara do Santo Graal que se institucionalizou
o Tribunal da Santa Inquisição, para enterrar definitivamente a heresia do
casal Jesus e Maria Madalena.
Em
meio a tanto mistério, lendas e mitos foram criados, alguns até grotescos, por
igrejas da França, alegando possuírem os restos mortais de Maria Madalena, a
pecadora arrependida, que passou seus últimos 33 anos em penitência, em uma
gruta da floresta de Sainte Baume. Um deles é o da Igreja de Saint Maximin, no
sul da França, que expõe um crânio, em uma redoma de vidro e caixa de ouro,
alegando ser o crânio de Madalena. Essa “relíquia” sai em cortejo pelas ruas,
durante festividades.
Histórias
como estas levaram ao esquecimento a identidade de Maria Madalena como grande
mestra e heroína da Europa Medieval; fazendo prevalecer a alcunha impingida
pela Igreja Católica Romana de “pecadora arrependida”.
Porém,
o Divino pode ser oculto, mas nunca pode ser apagado. Assim foi que um tesouro
enterrado nas areias do Egito, há quase 2 mil anos, trouxe de volta a
verdadeira identidade de Madalena.
Em
1945, foram descobertos, sob o rico solo do Vale do Rio Nilo, 13 manuscritos em
papiro, hoje conhecidos como os “Evangelhos Gnósticos (apócrifos)”. O documento escrito em Copta (antiga língua egípcia) contém 49 tratados da seita Gnóstica, que
nunca fizeram parte do Novo Testamento, e muitos deles nunca vistos.
Muitos
documentos foram destruídos ou queimados pela Igreja Católica Romana, como
heréticos; porém, nunca ninguém teve acesso aos seus conteúdos.
O
tema principal dos ensinamentos gnósticos é que a Divindade não é uma força
externa, mas uma capacidade interna, inata a todos os seres humanos e não só a
Jesus. O Evangelho de Maria Madalena corrobora isto ao dizer: “O divino está em ti, pois fomos criados à
imagem de Deus”, denotando uma continuidade entre o humano e o divino.
No
documento intitulado “Pitis Sofia” (o
livro sagrado da Gnose), estão registradas as dificuldades de entendimento
entre os apóstolos, inclusive uma discussão entre Madalena e Pedro, porque
Maria fala e pergunta muito na sua compreensão judia de não se dar voz às
mulheres; e Jesus a encoraja a falar.
O Pistis Sophia foi escrito no século II ou
III D.C, baseado nos ensinamentos de Valentiniano, o principal autor gnóstico,
e é composto de cinco livros.
Nos textos desta obra, Jesus constantemente pede
aos discípulos, dentre aqueles que sejam tocados pelo Espírito (costume dos antigos gnósticos), que deem
sua avaliação sobre o que Ele expôs.
“Tantos os homens como as mulheres discípulos
participam livremente do diálogo com Jesus. Maria Madalena é o discípulo que
mais interroga o Mestre, é o que melhor compreende seus ensinamentos, e é em
quem Ele deposita a maior confiança e amor. Tanto que chega a deixar Pedro
irritado com as intervenções constantes de Madalena”.
Para os gnósticos, Maria Madalena era o protótipo
do perfeito adepto. “Ela amava o Cristo sobre todas as coisas, tinha Fé, foi a
testemunha de sua Ressurreição e tinha uma capacidade plena para receber a
Gnose, ou o Conhecimento Divino. Através do arquétipo feminino que Maria
representa, a Alma é plena para receber a Gnose Divina, bastando se purificar
para receber e reconhecer o Cristo”.
Pelo
Evangelho de Maria Madalena, fica claro que os gnósticos a tinham na conta de
profetisa, apóstola de Jesus e líder do seu grupo de seguidores. Fica claro
também que o Mestre compartilhava ensinamentos secretos com ela, e isso deixa
Pedro enciumado. Maria destaca-se de todos os demais apóstolos.
Esta imagem de Maria Madalena é assumida pelas
comunidades cristãs primitivas, principalmente as consideradas gnósticas e,
desde o início, pela Igreja Ortodoxa: a Apóstola, discípula do Cristo,
testemunha de sua Paixão e Ressurreição.
"Maria
Madalena e Sofia, com as filhas Fé, Amor e Esperança" - Ícone Ortodoxo
Nos
Evangelhos canônicos, não existem mulheres discípulos; estas apenas
acompanhavam Jesus. Mas nos Evangelhos gnósticos havia mulheres discípulos, das
quais se destacava Maria Madalena.
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Porém,
nem mesmo a descoberta desses documentos causou tanto impacto quanto a obra do
gênio das artes e ciências, Leonardo Da Vinci, trazendo Madalena de volta aos
olhos do mundo: “A Última Ceia”, onde
uma figura feminina está sentada à esquerda de Jesus; imagem que pesquisadores
atribuem a João Evangelista, retratado com rosto feminino por ser muito jovem e
puro.
E
baseado nesta obra de Da Vinci, o escritor Dan Brown produziu a polêmica obra “O Código Da Vinci”, depois
transformado em filme, onde abertamente está exposto serem Jesus e Maria
Madalena um casal com uma filha (Sarah),
o que corrobora os Evangelhos de Maria Madalena e de Felipe.
Ora,
sendo Jesus um judeu, cultura de costumes extremamente rígidos, certamente
seria um homem casado, aos 32 anos. Além disso, mesmo nos quatro Evangelhos
canônicos, Maria Madalena é citada 12 vezes, e nos momentos mais importantes da
vida missionária do Mestre. Isso prova que ela era a mulher mais próxima de
Jesus.
A
cena da unção dos pés de Jesus com a essência de nardo, supostamente por Maria
Madalena, tem uma simbologia muito forte, pois somente uma mulher muito próxima
poderia tocar os pés desnudos do ungido: somente a mãe ou a esposa.
Esta
cena nos remete, também, ao Hieros Gamos (Alquimia
sagrada – magia sexual), uma celebração da união sagrada de um casal divino
espelhado na Terra em um corpo humano: o êxtase orgásmico sagrado da Criação;
presente na Cultura Egípcia (Isis: deusa
da sexualidade) e em algumas religiões pagãs. Neste caso, Madalena seria
uma Sacerdotisa de Isis, celebrando o Hieros
Gamos com um Mestre Crístico: Jesus.
As escrituras confirmam, ainda, que Maria ungiu
não apenas os pés, mas também a sua cabeça, fazendo-o com seus próprios
cabelos. Os detalhes desse ato parecem confirmar que aquilo fora um ritual de
significado interior profundo. A ação de Maria foi parte de um rito egípcio
relativo a Ísis e Osíris, por meio do qual o rei-sacerdote é ungido pela
rainha-sacerdotisa em preparação para o seu ritual de união, o Hieros Gamos ou casamento sagrado.
Todos
os deuses (egípcios, gregos, romanos,
antigo oriente) tinham suas deusas, formando um casal. Somente um deus
judeu não teria? Na tradição judia, Deus é sempre representado pelo masculino,
mas nos demais, é sempre mencionado Deus Pai/Mãe.
Madalena
incorpora, portanto, o que a Igreja Ortodoxa perdeu e fez perder a humanidade:
o Sagrado Feminino – a deusa.
Simboliza,
também, a devoção acima do racional, firme quando todos a rejeitavam por ser
mulher, ou quando todos os apóstolos fugiram e ela ficou ao lado do seu Amado.
O MITO DAS VIRGENS NEGRAS
E MARIA MADALENA
A
exemplo da história religiosa no Brasil, em que temos uma Virgem Negra – Nossa
Senhora Aparecida – como padroeira do país, ao redor do mundo, ao
contrário do que se imagina, elas não estão apenas associadas à Virgem Maria,
mãe de Jesus, mas também à Maria Madalena, chamada de "a outra
Maria". Na Europa, existem cerca de 50 santuários, entre os 125 dedicados
à Maria Madalena, que possuem imagens de Virgens Negras.
Isis e Osíris |
Algumas dessas estátuas de Virgens Negras não
apresentam feições com características europeias, e sim, algo mais parecido com
antigas estátuas de deusas egípcias. Para Carl Jung, que estudou o fenômeno,
elas se referem a um arquétipo feminino de fecundação, ligado à fecundidade da
terra, por isso a cor negra, e representam, em sua maioria, a deusa egípcia
Ísis.
Foram os Templários (Ordem do Templo, criada por São Bernardo) que associaram o culto
das virgens negras à Maria Madalena. E também foi Bernardo o primeiro a associá-la
à noiva morena dos Cânticos de Salomão.
O curioso é que existem várias imagens de Virgens
Negras associadas à Maria Madalena que estão com uma criança no colo, o que
sempre intrigou os historiadores e os especialistas em religião comparada.
Das muitas lendas que ilustram a trajetória
de Maria Madalena, como mencionamos anteriormente, podemos incluir a de Kali
Sara, ou a "Negra Sara", a santa protetora dos ciganos, e cuja história
se perdeu no tempo. Alguns acreditam que ela era uma pescadora de origem cigana
moradora da região, que teria testemunhado o desembarque de Maria e José de
Arimateia, e que, ao perceber que o barco onde estavam as três Marias estava afundando,
teria pulado na água e, como exímia nadadora, salvado seus ocupantes. Outra
versão diz que ela era uma criança de pele morena, que teria desembarcado
juntamente com Maria Madalena e que seria sua filha com Jesus. Desembarcando na
França, teria dado origem à linhagem dos francos Merovíngios (reis), que seriam descendentes da
sagrada família. Nesta visão, Madalena teria levado para a Europa o Sangue
Real, que com o passar do tempo, em franco, se tornou a palavra Santo Graal.
OS SÍMBOLOS E MARIA
MADALENA
Quatro principais símbolos são associados a Maria
Madalena: O Jarro, O Crânio, o Livro e o Ovo Vermelho.
O
Jarro: associado à Maria Madalena, já que ela foi
associada à várias passagens da bíblia sobre mulheres que ungiram o corpo do Mestre,
com um líquido que estava em um jarro. Além disso, o Jarro também faz lembrar o
cálice sagrado.
O crânio: além de outras representações, também está
associado à ressurreição, por ser um símbolo da morte física. “É o arquétipo da
renovação espiritual, do abandono da vida anterior ligada ao mundo da matéria,
da renovação da natureza. Como ela foi testemunha da ressurreição do Cristo,
foi associado a ela este símbolo. Outra associação possível é com o nome do
lugar onde o Cristo foi crucificado: o Gólgota, ou ‘lugar das caveiras’.”
O Livro: Maria Madalena
também é muitas vezes representada juntamente a um livro aberto, sobre o qual
ela medita a respeito dos conhecimentos deixados pelo Mestre. “O Livro é a
Gnose, é o Novo Testamento, ou Aliança deixada pelo Cristo aos seus discípulos.
Como principal discípula de Jesus, Madalena continua como a portadora do
Conhecimento que abre o espírito ao Espírito Divino. Ela decifra o verdadeiro
conteúdo e simbologia das escrituras, buscando o sentido interior da palavra
escrita. Pode ser também a representação do fato de que, à Maria Madalena, foi
associado o quarto evangelho, senão como sua escritora, mas como sua
inspiradora, pois é o evangelho que mais fala do amor e do espírito. Além
disso, há o fato de que o quarto evangelho foi atribuído ao "discípulo
mais amado" do Cristo, epíteto este utilizado pelas comunidades cristãs
primitivas mais à Maria Madalena do que à João”.
O ovo vermelho: “é o símbolo do nascimento, de tudo o que está em
germe para ser gerado e dar à vida. É o símbolo da unidade primordial, que traz
em si o que irá emanar. É a gestação do Novo Homem, símbolo da unidade da qual
viemos e para qual iremos retornar”.
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EVANGELHO APÓCRIFO DE
MARIA MADALENA
“O Evangelho de
Maria é um texto provavelmente do século II ou III, encontrado no Egito, que
faz parte dos denominados Códices de Berlim, juntamente com os Apócrifos de
João e outros textos. Menos da metade do documento foi preservado (ou não foi
destruído), sendo que dez das dezenove páginas estão perdidas.
O texto não conta a
vida do Cristo, mas parte do ponto quanto Jesus já ascendeu aos céus, e os
discípulos inquirem Maria a lhes falar do Cristo e a lhes ministrar
ensinamentos que apenas ela ouviu do Mestre.
Pedro disse para Maria:
"Irmã, sabemos que o Salvador a amava mais do que às outras mulheres.
Conte-nos as palavras que você se lembra. As coisas que você sabe e nós não, e
nem as ouvimos dele".
Maria respondeu,
dizendo: "O que lhes foi ocultado, eu direi" (Evangelho de Maria cap.
10 v.1:5).
Neste evangelho,
mais do nunca, ela é a portadora da Gnose, sendo a única que recebeu
determinados ensinamentos do Senhor. E como tal, tem uma autoridade
inquestionável sobre os demais discípulos, apesar de que, também neste texto,
Pedro e outros homens não aceitam de bom grado sua ascendência sobre o grupo. É
ela que envia os apóstolos para o mundo, representando novamente a consciência
interior de cada um deles, lembrando a todos as palavras do Cristo para que
pregassem o Seu evangelho.
[...] Mas eles (os discípulos) estavam aflitos e
lamentavam muito, dizendo: "Como poderemos ir por todas as nações e pregar
o evangelho do reino do Filho do Homem se eles não o respeitaram, como nos
respeitarão? "Então, Maria levantou-se, abraçou a todos e disse aos seus
irmãos: "Não lamentem, não se aflijam e não formem dois corações, pois a
graça Dele estará com todos vocês e irá protegê-los. Antes, louvemos-lhe a
grandeza, pois ele nos preparou. Ele fez de nós Filhos do Homem”. Quando Maria
disse estas palavras, encaminhou seus corações para dentro, para o Bem. E eles
começaram a praticar as palavras do Salvador" (Evangelho de Maria cap.9
v.5:20).
[...] É a fé
inabalável de quem presenciou sua ressurreição, que lhe dá a grandeza de poder
falar em Seu nome. É apenas através da Alma que podemos sentir esse chamamento,
sendo Maria, portanto, a mediadora entre o Cristo e todos nós seus discípulos.”
INTRODUÇÃO
DO EVANGELHO DE MARIA MADALENA
Salvador disse: "Todas as
espécies, todas as formações, todas as criaturas estão unidas, elas dependem
umas das outras, e se separarão novamente em sua própria origem. Pois a
essência da matéria somente se separará de novo em sua própria essência. Quem
tem ouvidos para ouvir que ouça".
Pedro lhe disse: "Já que nos
explicaste tudo, dize-nos isso também: o que é o pecado do mundo?"
Jesus disse: "Não há pecado;
sois vós que os criais, quando fazeis coisas da mesma espécie que o adultério,
que é chamado 'pecado'. Por isso Deus Pai veio para o meio de vós, para a
essência de cada espécie, para conduzi-la à sua origem".
Em seguida disse: "Por isso
adoeceis e morreis [...]. Aquele que compreende minhas palavras, que as coloque
em prática. A matéria produziu uma paixão sem igual, que se originou de algo
contrário à Natureza Divina. A partir daí, todo o corpo se desequilibra. Essa é
a razão por que vos digo: tende coragem, e se estiverdes desanimados, procurais
força das diferentes manifestações da natureza. Quem tem ouvidos para ouvir que
ouça".
Quando o Filho de Deus assim
falou, saudou a todos dizendo: "A Paz esteja convosco. Recebei minha paz.
Tomai cuidado para ninguém vos afaste do caminho, dizendo: 'Por aqui' ou 'Por
lá', pois o Filho do Homem está dentro de vós. Segui-o. Quem o procurar, o
encontrará. Prossegui agora, então, pregai o Evangelho do Reino. Não
estabeleçais outras regras, além das que vos mostrei, e não instituais como
legislador, senão sereis cerceados por elas". Após dizer tudo isto partiu.
Mas eles estavam profundamente
tristes. E falavam: "Como vamos pregar aos gentios o Evangelho ao Reino do
Filho do Homem? Se eles não o pouparam, vão poupar a nós?" Maria Madalena
se levantou, cumprimentou a todos e disse a seus irmãos: "Não vos
lamentais nem sofrais, nem hesiteis, pois sua graça estará inteiramente
convosco e vos protegerá. Antes, louvemos sua grandeza, pois Ele nos preparou e
nos fez homens". Após Maria ter dito isso, eles entregaram seus corações a
Deus e começaram a conversar sobre as palavras do Salvador.
Pedro disse a Maria: "Irmã,
sabemos que o Salvador te amava mais do que qualquer outra mulher. Conta-nos as
palavras do Salvador, as de que te lembras, aquelas que só tu sabes e nós nem
ouvimos".
Maria Madalena respondeu dizendo:
" Esclarecerei a vós o que está oculto". E ela começou a falar essas
palavras: "Eu", disse ela, "eu tive uma visão do Senhor e contei
a Ele: 'Mestre, apareceste-me hoje numa visão'. Ele respondeu e me disse:
'Bem-aventurada sejas, por não teres fraquejado ao me ver. Pois, onde está a
mente há um tesouro'. Eu lhe disse: 'Mestre, aquele que tem uma visão vê com a
alma ou como espírito?' Jesus respondeu e disse: "Não vê nem com a alma
nem com o espírito, mas com a consciência, que está entre ambos - assim é que
tem a visão [...]".
E o desejo disse à alma: 'Não te
vi descer, mas agora te vejo subir. Por que falas mentira, já que pertences a
mim?' A alma respondeu e disse: 'Eu te vi. Não me viste, nem me reconheceste.
Usaste-me como acessório e não me reconheceste’. Depois de dizer isso, a alma
foi embora, exultante de alegria.
"De novo alcançou a terceira
potência, chamada ignorância. A potência inquiriu a alma dizendo: 'Onde vais?
Estás aprisionada à maldade. Estás aprisionada, não julgues!' E a alma disse:
'Por que me julgaste apesar de eu não haver julgado? Eu estava aprisionada; no
entanto, não aprisionei. Não fui reconhecida que o Todo se está desfazendo,
tanto as coisas terrenas quanto as celestiais'.
"Quando a alma venceu a
terceira potência, subiu e viu a quarta potência, que assumiu sete formas. A
primeira forma, trevas; a segunda, desejo; a terceira, ignorância; a quarta é a
comoção da morte; a quinta é o reino da carne; a sexta é a vã sabedoria da
carne; a sétima, a sabedoria irada. Essas são as sete potências da ira. Elas
perguntaram à alma: ‘De onde vens, devoradora de homens, ou onde vais,
conquistadora do espaço?' A alma respondeu dizendo: 'O que me subjugava foi
eliminado e o que me fazia voltar foi derrotado..., e meu desejo foi consumido
e a ignorância morreu. Em um mundo fui libertada de outro mundo; num tipo fui
libertada de um tipo celestial e também dos grilhões do esquecimento, que são
transitórios. Daqui em diante, alcançarei em silêncio o final do tempo
propício, do reino eterno'."
Depois de ter dito isso, Maria
Madalena se calou, pois até aqui o Salvador lhe tinha falado. Mas André
respondeu e disse aos irmãos: "Dizei o que tendes para dizer sobre o que
ela falou. Eu, de minha parte, não acredito que o Salvador tenha dito isso.
Pois esses ensinamentos carregam ideias estranhas". Pedro respondeu e
falou sobre as mesmas coisas. Ele os inquiriu sobre o Salvador: "Será que
ele realmente conversou em particular com uma mulher e não abertamente conosco?
Devemos mudar de opinião e ouvirmos ela? Ele a preferiu a nós?" Então
Maria Madalena se lamentou e disse a Pedro: "Pedro, meu irmão, o que estás
pensando? Achas que inventei tudo isso no meu coração ou que estou mentindo
sobre o Salvador?"
Levi respondeu a Pedro:
"Pedro, sempre fostes exaltado. Agora te vejo competindo com uma mulher
como adversário. Mas, se o Salvador a fez merecedora, quem és tu para
rejeitá-la? Certamente o Salvador a conhece bem. Daí a ter amado mais do que a
nós. É, antes, o caso de nos envergonharmos e assumirmos o homem perfeito e nos
separaremos, como Ele nos mandou, e pregarmos o Evangelho, não criando nenhuma
regra ou lei, além das que o Salvador nos legou".
Depois que Levi disse essas
palavras, eles começaram a sair para anunciar e pregar.
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CONCLUSÃO
Não
podendo mais esconder toda a verdade, a Igreja Católica Romana, em 1979, reviu publicamente
a decisão do Papa Gregório, em ter Madalena como a pecadora arrependida,
passando a considerá-la discípula de Jesus.
Pesquisas
sendo realizadas, livros sendo escritos, filmes e documentários sendo
produzidos; todos resgatando a verdadeira essência de Maria Madalena, a
Consorte Divina de Jesus, relegada ao lodo da difamação para impedir que a
verdadeira obra de Jesus fosse concluída na Terra. Difamando Maria Madalena e
fazendo de Jesus um Deus puramente masculino e casto, impediu-se a ingerência
do Sagrado Feminino no planeta, sustentando o amor, a concórdia e a
compassividade; virtudes e energias que não interessavam a quem desejava o
poder e o controle sobre o outro.
[...] Para reconstruir a figura de
Madalena, o primeiro passo tem sido fixar o que esta mulher não foi. Quer dizer, trata-se de recusar
definitivamente a imagem negativa que a Igreja foi criando em torno dessa
personagem, à medida que a instituição se hierarquizava, se masculinizava e se
convertia em baluarte contra o sexo como exercício humano (sagrado) de diálogo e de felicidade. Assim, o sexo foi reduzido a
mera função procriativa, e estabeleceram-se o celibato e a virgindade acima,
inclusive, do sacramento do casamento. Assim, o sexo tornou-se pecado e
Madalena seria a encarnação do pecado do sexo. A arrependida e a perdoada;
portanto, a santa.
Prostituta, endemoniada, pecadora,
encarnação do mal, símbolo do arrependimento... Tudo, menos o que foi
realmente: a mulher mais importante no cristianismo nascente. Só Maria, a mãe
de Jesus, pode obscurecer sua presença, mas, nos Evangelhos, é inclusive mais
visível que a virginal Mãe de Jesus. Efetivamente, segundo os Evangelhos, Jesus
aparece no domingo da Ressurreição para Madalena, não para Maria. Dessa forma,
o Mestre confere a essa mulher uma formidável importância teológica. (ARIAS, Juan)
Maria
está retomando sua verdadeira identidade de discípulo, apóstolo dos apóstolos,
mestra-líder e poderosa em termos de ingerência sobre as pessoas, a encarnação
do Divino-feminino para acompanhar e completar o Divino-masculino: Jesus, sua
Chama-Gêmea. Estamos revivendo o Cristianismo Primitivo, de antes do
aparecimento da Igreja Romana.
BIBLIOGRAFIA
- FRANÇA, Prof. Zezinho (antropólogo, teólogo e jornalista), in “A verdadeira história de Santa Sara Kali”
- Fonte: https://www.recantodasletras.com.br/ensaios/4577774
- In “Como a Igreja tratou a heresia dos
Albigenses ou Cátaros” - Revista “O CONSOLADOR”, Ano I, nº 40, 27/01/2018,
- ARIAS Juan, “Madalena, o último tabu do Cristianismo”
– Tradução: Olga Savary; Editora Objetiva, Rio de Janeiro/RJ, 2006.
- BAIGENT,
Michael; LEIGH, Richard; LINCOLN Henry; “O
Santo Graal e a linguagem sagrada”; tradução Nadir Ferrari, Rio de Janeiro,
Editora Nova Fronteira, 1993.
NOTA DO BLOG: Ao
compartilhar este conteúdo, solicitamos o favor de respeitar todos os créditos,
principalmente do Blog SIRIANA (pesquisa, redação e artes): - http://www.almasiriana.blogspot.com.